*Pe. Gilmar Antonio Fernandes Margotto
Mesmo sendo Deus o autor de toda a vida, ele quis contar com o homem e a mulher na transmissão da vida humana: “sede fecundos e multiplicai-vos” (cf. Gn 1,28). Assim, homem e mulher foram chamados pelo Criador a manifestarem na história a bondade e beleza de Deus. Portanto, toda paternidade e maternidade procedem de Deus. A nossa criação é seguida da bênção divina. Deus nos criou para vivermos em comunhão com Ele. E o dever de transmitir a vida humana, pelo qual os esposos são os colaboradores livres e responsáveis de Deus Criador, foi sempre motivo de grandes alegrias, mesmo quando acompanhado de dificuldades e angústias. A vinda de um filho é renovação da vida conjugal e familiar. A criança se torna o centro das atenções de todo o parentesco, principalmente dos avós. Só quem acolhe a vida e a transmite como dom de Deus pode testemunhar a beleza de experimentar estas maravilhas na família. A percepção da beleza e da bondade da vida é compartilhada, exaltada e proclamada por homens e mulheres em todas as culturas humanas. Representam a primeira porta por meio da qual o ser humano compreende o significado da vida e a importância de defende-la.
Mas o ato de gerar uma vida não faz dos pais proprietário dela. Ela é antes de tudo dom de Deus. Os pais são colaboradores de Deus e não autores da vida. Eles não possuem o direito de impedir voluntariamente o início da vida, nem de interromper o seu ciclo natural. A vida humana é no mundo manifestação de Deus, sinal da sua presença, vestígio da sua glória (cf. Gn 1,26-27; Sl 8,6). Isso mesmo quis sublinhar Santo Irineu de Lião, com a célebre definição: “A glória de Deus é o homem vivo”. O próprio Deus indica, pela boca de Moisés, o caminho da felicidade e da vida: “Vê, ofereço-te hoje, de um lado, a vida e o bem; do outro, a morte e o mal. Coloco diante de ti a vida e a morte, a felicidade e a maldição. Escolhe a vida, e então viverás com toda a tua posteridade”. (Dt 30, 15.19). É um convite muito apropriado para nós, chamados cada dia a ter de escolher entre a cultura da vida e a cultura da morte.
É preciso manter a atenção para o discernimento diante de projetos de lei que têm por objetivo ampliar a legalização do aborto baseados em casos muito raros, mas que mobilizam a opinião publica. Isso é tanto mais necessário numa sociedade que aceita cada vez mais a cultura da qualidade de vida com critérios subjetivos, materialistas e hedonistas, em substituição à sacralidade da vida, e que rejeita o sentido de qualquer sofrimento. A Igreja apresenta como critérios para analisar os problemas relacionados à defesa da vida o Evangelho e a sua doutrina bimilenar, além de sua história de esforço contínuo para que a vida aconteça sempre mais de acordo com o Plano de Deus.
*Pe. Gilmar Antonio Fernandes Margotto é da Igreja Matriz Nossa Senhora Aparecida