Aceitar a necessidade do trabalho para sobrevivência do homem é uma problema que carregamos desde os tempos mais remotos. Já no Genesis, o primeiro livro da coleção bíblica, há uma explicação “razoável” para seu tempo - trabalhar é um “castigo divino” fruto da desobediência. Mas, até quando o trabalho continuará a ser um castigo? Sabe-se que esse trecho do livro bíblico serviu para que o sistema econômico, trazido do Egito pelo grande Rei Salomão, vigorasse com aceitação popular, pois sua corte, exércitos e construções eram muito onerosas e “alguém” deveria pagar a conta. Claro! Os pobres nos campos eram o únicos que sofriam desse verdadeiro “castigo”.
Discussões mais recentes nos meios acadêmicos sociológicos e psicológicos, apresentam que o ser humano, que empenha mais de dois terços da sua vida adulta no trabalho, deve servir-se de políticas públicas, patronais e mesmo vetores pessoais que apontem sua satisfação pessoal no exercício do labor.
Equilíbrio, descanso, remuneração plausível, são caminhos indispensáveis para se encontrar no trabalho a realização pessoal. Sabe-se que o homem que trabalha com gosto produz mais e melhor, pois consegue viver não como uma máquina, mas como parte interativa de uma ação sócio-transformadora para o mundo e todos ganham com isso.
Mesmo depois do clássico filme “Tempos Modernos” (1936), estrelado pelo saudoso Charlie Chaplin, que discutiu pela primeira vez na sétima arte a relação entre homem e trabalho ou, em outro clássico sociológico mais recente protagonizado por Gérard Depardieu, “Germinal” (1993), que apresentou a vida de uma comunidade mineradores sucumbida de seus direitos, a pergunta não cala: o homem está para o trabalho ou o trabalho para o homem?
Essa pergunta, embora tenha uma resposta clara, coloca o trabalho no seu verossímil lugar: ele deve estar a serviço da vida humana e não o contrario. Nesse contexto, a realização pessoal e familiar aparece como finalidade do trabalho.
Sabe-se que cabe ao educador provocar a inteligência para colher o conhecimento, em lugar de dar respostas prontas. Pois bem, será que muitos pais e mães de hoje têm colocado seu trabalho como finalidade de vida, deixando suas famílias de lado por acharem o que a sua única obrigação no lar é sustento material? Será que os mesmos têm tido um tempo livre para o diálogo e o lazer com seus filhos? Ou sua única presença sejam os presentes em forma de equipamentos eletrônicos novos (computador, videogame etc) para que os deixem em paz?
Depende de nós – canta a canção – de cada um de nós, favorecer uma cultura de pessoas que não vivam apenas para o trabalho, mas para trabalhar, amar, partilhar bons momentos, sofrer as angustias e limitações da vida... Cabe a cada homem e mulher inteligente lutar por um mundo onde todos sejam valorizados pelo que são e a construção da justiça social comece pela valorização da Família, bem inalienável da nação, célula da sociedade, berço de gente feliz.
*Padre Marcio Tadeu Reiberti Alves de Camargo - Pároco da Paróquia Senhor Bom Jesus