José Aníbal é presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela e senador suplente pelo PSDB-SP. Foi deputado federal e presidente nacional do PSDB
Quer dizer que Dilma resolveu enfim cortar ministérios e reduzir uns (poucos) cargos comissionados? Então, finalmente acordou para a gravidade da crise e admitiu que o governo, como de costume, errou na avaliação do cenário? E não é que ela até aceitou o fato de que seus companheiros petistas andaram mesmo metidos em malfeitos?
Quem pensa que Dilma foi acometida de um surto súbito de bom senso e juízo, todavia, engana-se. A presidente, é bom que se diga, não é dada a autocríticas e a essas imolações públicas. Na verdade, Dilma tenta às pressas limpar as estrebarias, pois sabe o que a aguarda. O que vem por aí é do balacobaco.
Quem tomou conhecimento da peça orçamentária de 2016 – que o governo tem de enviar ao Congresso até 31 de agosto – afirma que o estelionato eleitoral de 2015 foi um mero canapé de entrada. Dilma terá de fazer novos furos no cinto para alcançar o superávit de 0,7% no ano que vem. Não vai apertar os gastos públicos, mas estrangulá-los de vez.
Somente no 1º semestre de 2015, os investimentos da União e dos estados caíram 22%. Com o péssimo desempenho da economia, a arrecadação desabou e o mau resultado das estatais ameaça os dividendos esperados pelo Tesouro. A dívida pública tem saltado aos solavancos, enquanto estados e municípios não conseguem fechar as contas. E ainda tem a crise que vem da China.
Como a inflação não cede, os juros de 14,25% tornam dramática a situação do setor produtivo. O desemprego ultrapassa 10% nas maiores capitais nordestinas justo quando o Planalto resolveu dificultar o acesso aos mecanismos de proteção dos trabalhadores. Será que o país aguenta mais aperto? Mais arrocho? Mais impostos e menos investimentos?
Ao que tudo indica, Dilma vai seguir cedendo às pressões setoriais aqui e ali, fragilizando o já combalido ajuste fiscal. A situação da presidente é o clássico “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Um estadista corajoso e responsável enfrentaria a situação a despeito de sua sobrevivência política e popularidade.
Dilma, com sua natural dificuldade de encarar a realidade, além do enorme talento para tirar o corpo fora e culpar terceiros, fará essa “travessia”? Difícil acreditar. Afinal, ela conseguiu minar o que restava de credibilidade ao fazer vista grossa para a política de sabotagem a Michel Temer conduzida pelo serpentário do Planalto – leia-se Casa Civil.
O que vem por aí é difícil de prever, dado o inquietante cerco da Lava Jato e a crescente hostilidade popular a esse grupo político corrupto, incompetente e mentiroso. O que já se sabe é que Dilma, ao reunir o pior de Jango, Geisel, Sarney e Collor, vai se firmando com uma das piores presidentes da história do Brasil.