Prof. Manuel Ruiz Filho é colaborador deste jornal
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Pois é, uma foto horripilante de Aylan Kurdi, um anjo inocente, com apenas três anos de idade, pagando com a vida a irresponsabilidade de um povo inescrupuloso e sem Deus no coração. Uma indefesa criança síria, de short azul, camiseta vermelha, nos pezinhos um calçado preto. De bruços nas águas frias do Mar Mediterrâneo que no mês de julho, na cidade de Málaga – Espanha - me molhei os pés.
Jamais imaginei que não muito longe de onde estive no mês de setembro uma criança fosse pagar com sua própria vida a bestialidade de um povo sem alma e sem fé. A guerra civil na Síria passou dos limites e o mundo continua de braços cruzados discutindo o preço do dólar e do euro. Onde estão os países que defendem o que é desumano? Nunca uma foto transmitiu tanta brutalidade contra inocentes como a foto de Aylan. A Síria, desde 2011 entrou numa guerra civil para combater um governo ditatorial. Uma forma de governo de escravatura. Esse conflito acabou por abrir um enorme espaço para que grupos radicais ganhassem força e dominassem o país.
As forças do então ditador, no combate às novas facções que buscam seus ideais, não medem consequências para a continuidade de um governo ditatorial e sangrento. É isso que dizem as manchetes do mundo todo. Cerca de 20 milhões de árabes, habitantes do local, foram obrigados a deixar suas casas para a ocupação de grupos rebeldes. É isso mesmo, sair de suas casas para dar lugar aos invasores. Uma opção que têm tornado viável aos infelizes é adentrar aos países europeus através do Mar Mediterrâneo, em embarcações desestruturadas e impróprias para essa viagem. Numa dessas embarcações é que, em busca de uma vida decente, Aylan se dispôs rumo a um futuro de vida. Pena que ele não sabia que essa poderia ser e foi a sua última possibilidade de enxergar o mundo. Afogou-se nas águas do Mediterrâneo.
O próprio mar percebendo que não tinha a dignidade de permanecer com um corpo santo em suas águas o depositou na praia. De bruços, Aylan ali permaneceu para que os homens pudessem refletir a ignorância e a maldade que predomina no mundo cão que habitam. Esse menino não deve ter entendido o que os homens fizeram com ele, mas os homens devem ter entendido o que fizeram com o menino. Com toda certeza, o céu ganhou mais um santo. Um menino de três anos de idade, o que poderia ter feito na Terra para não merecer os braços de Deus quando ao céu chegasse?! Aylan deve ter levado na lembrança que o homem deveria ter mais respeito com o mundo, que começou sem o ser humano e possivelmente vai terminar sem ele. Refletiu ainda o menino antes mesmo que águas salgadas inundassem seus pequeninos pulmões ‘podemos escolher aquilo que vamos semear, mas seremos obrigados a colher aquilo que plantarmos’. Fui para Deus, aliás, já estou no colo Dele.