Mauro de Salles Aguiar é diretor Presidente do Colégio Bandeirantes e membro do Conselho do escritório de representação no Brasil da Harvard University / David Rockefeller Center for Latin American Studies (DRCLAS)
Em educação não existe concurso de originalidade. As boas experiências ao redor do mundo, os métodos de ensino e as melhores formas de gestão de escolas e sistemas, podem e devem ser estudados, assimilados e compartilhados.
O debate educacional mais acalorado nos dias de hoje é a reorganização das escolas que o governo estadual de São Paulo está propondo para a sua rede. A ideia é separar em prédios diferentes os alunos mais velhos das crianças e pré-adolescentes.
Isto acontece em diversos países que tratam educação a sério. Nos Estados Unidos, Japão ou Inglaterra chega a ser impensável misturar crianças do 1º ao 5º ano com jovens do ensino médio. O mesmo ocorre nas escolas cubanas. Crianças tem necessidades biológicas, cognitivas e psicológicas totalmente diferentes de jovens. Tanto é que as salas de aula e ambientes de aprendizagem devem ter equipamentos e materiais disponíveis totalmente diferentes entre umas e outras. Quem conhece as boas escolas especializadas no ensino de crianças e as que ensinam os jovens percebem perfeitamente bem a diferença entre elas.
Isso também ocorre, por exemplo, no colégio Bandeirantes, na cidade de São Paulo, caso que conheço seus pormenores por ser seu diretor-presidente. Desde o início de sua existência, há 71 anos, o Bandeirantes sempre se dedicou ao ensino de pré-adolescentes e de adolescentes. Não temos vocação e nem nos equipamos para atender a crianças do 1º ciclo do ensino fundamental, de 6 a 10 anos de idade. Somos reconhecidos por concentrar nossos esforços nos pré-adolescentes de 11 a 14 anos. E nos adolescentes de 15 a 17 anos. Para eles temos computadores, laboratórios multidisciplinares, anfiteatro, biblioteca e quadras poliesportivas para práticas coletivas, atividades musicais, teatrais e outras que estimulam o protagonismo juvenil. E os professores do Bandeirantes se concentram nesta tarefa, desenvolvendo projetos, materiais e se capacitando para entender e conhecer a necessidade do perfil de aluno com o qual atuam.
Nos anos 80, com o enorme processo de globalização no nosso planeta, o Bandeirantes promoveu uma série de viagens para que seus dirigentes pudessem visitar o sistema educacional em outros países. Japão, Estados Unidos, Cuba, Inglaterra, Taiwan e tantos outros foram alvo de nossas incursões.
Em todas as escolas visitadas comprovamos a eficácia de um ensino focado para cada faixa etária.
Com base na nossa experiência, acreditamos que a iniciativa do governo paulista em reorganizar a infraestrutura sua rede de escolas não só irá melhorar a qualidade da educação como também evitar a subutilização de prédios e equipamentos desnecessários que consomem recursos públicos. Estes recursos serão mais bem empregados se forem utilizados de forma racional e na melhoria dos espaços de aprendizagem para cada faixa etária.
Há ainda outra vantagem tão importante quanto, na iniciativa da Secretaria da Educação. Quando há uma concentração de professores numa única escola, se propicia melhores condições para eles desempenharem, com êxito, sua missão de ensinar. Numa época em que a capacitação dos professores é a pedra de toque para a qualidade do ensino, isto fará toda a diferença no aprendizado de adolescentes e no desenvolvimento cognitivo das crianças.
Esse é o sentido da mudança operada na estrutura educacional do Estado, por isso deve ser saudada. É muito bem-vinda.