Prof. Manuel Ruiz Filho é colaborador deste jornal
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Há muito tempo as pessoas enfrentam os mais variados problemas familiares e se deparam cada vez mais com verdadeiras armadilhas com os resultados. Certa ocasião um grande amigo me fez uma importante observação: “você não acha difícil a administração da riqueza de uma geração para outra”. Acho, e muito – respondi. Famílias abastadas e cheias de regalias no passado têm encontrado situações precárias no presente. Muitas vezes a precariedade é tão grande que mais parece um castigo.
A rotina costuma mostrar que muitas pessoas que vêm depois da gente não conseguem administrar o dinheiro que herdam. Não se trata apenas de evitar que os familiares mais novos desperdicem o dinheiro que os mais velhos acumularam ao longo dos anos, o problema maior é que o dinheiro herdado não pode transformar os herdeiros na criatura que você não gostaria que fossem. Transferir riqueza sem uma educação consistente pode resultar em consequências desastrosas. Dar dinheiro a quem não participou da batalha do ganho pode transformar quem recebe num mero esbanjador. Isso tem acontecido muito. Analisando outros detalhes podemos até tornar nossos herdeiros muito dependentes com a consequente redução de confiança que recebem, destruindo qualquer tipo de ambição benéfica que eles possam ter tido.
Dar a um adolescente tudo que ele deseja pode torná-lo extremamente mimado, dependente e sem controle. Se o dinheiro entregue, sem medida, aos filhos pequenos pode torná-los complicados e depois de crescidos a situação poderia ser ainda pior. Na verdade é muito bom que orientemos os filhos para que saibam de nossos esforços na busca de uma qualidade de vida melhor para toda a família. Eles precisam participar do processo de acumulação de riqueza para quando forem donos da herança possam administrar com sabedoria a parcela que lhes foi destinada. Devemos aproveitar todos os momentos possíveis de ensinamento enquanto o nosso relacionamento pode ainda ser desfrutado. Entretanto, nessa convivência é salutar que não se adquira nada exageradamente caro só porque você foi pobre no passado e nunca teve coisa valiosa nas mãos. Do contrário, um valor menor pode ser mais vantajoso para mostrar a eles que tudo deve ser medido e pesado com o tempo.
Não estou sugerindo que você não tenha um padrão de consumo mais relevante, estou predispondo um conceito de valor mais suportável e adequado. Eduque seus filhos para o trabalho e de braços dados com o estudo. Sugira que façam algumas tarefas domésticas e mostre o valor disso. Na medida em que perceberes que seus filhos podem cuidar de si mesmos, discuta com eles o valor da riqueza familiar que terão. Mostre a eles que um bem durável poderá lhes proporcionar rendas significativas por um bom tempo no futuro. Eduque seus filhos para que eles não tenham dificuldades na forma de administrar os bens que receberão ou que foram frutos de seu próprio trabalho. Educar filhos para o futuro é uma tarefa de pais responsáveis. Não saia dessa lista de responsabilidade por qualquer motivo ou preço porque, talvez, outros caminhos não lhes serão favoráveis.