Prof. Manuel Ruiz Filho é colaborador deste jornal
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Esta semana circulou em redes sociais um vídeo visto por mais de 50 mil vezes, da maior atrocidade do gênero humano. Trata-se de uma inocente criatura de aproximadamente 6 anos de idade, sendo atendido por médicos após um ataque com míssil no Iêmen.
Para que você entenda melhor, esse país ocupa a extremidade sudoeste da Península da Arábia, limitado ao norte pela Arábia Saudita. O Iêmen é um país em desenvolvimento, descrito politicamente como uma cleptocracia (regime político-social em que práticas corruptas, sumiço com o dinheiro público, são implicitamente admitidas ou mesmo consagradas), tendo aproximadamente o tamanho do estado brasileiro da Bahia. Será isso coincidência? Isso te faz lembrar alguma coisa parecida?
Mas, esses dados não são de nenhuma importância, o que me chamou a atenção foi o fato de que esse menino, num leito de hospital, com lágrimas nos olhos, pedia aos médicos “não me enterrem”. Fareed Shawki é o seu nome, quem sabe possa ser parente daquele outro menino encontrado há pouco tempo morto numa praia do Mediterrâneo. Amigo leitor, você que é pai, mãe, avô, avó de um menino de até 10 anos de idade, você consegue assimilar o que a Humanidade está fazendo com ela mesma? Dá para entender a criatura humana pelos atos que tem praticado em nome de ideologias políticas ou religiosas ultimamente? Francamente, eu não tenho conseguido pensar sequer numa razão admissível de tudo isso. Esse menino tinha ferimentos na cabeça e outras partes do corpo e sofria de hemorragia interna após ser atingido por estilhaços provocados por um ataque de míssil feito por rebeldes Houthis. Esse grupo xiita, em setembro passado, fez com que o governo do Iêmen apresentasse renúncia, dando-lhes uma maior participação no poder de mando daquele país.
É lamentável que tudo isso tenha sido feito com derramamento de sangue de gente inocente. Esse pequeno, alguns dias depois de seu pedido de clemência para que não o enterrassem, veio a falecer. Pagou com a vida inocente a crueldade que no mundo aos poucos se torna rotina. Assim como a morte do menino Alan Kurdi simbolizou a tragédia dos sírios, o apelo de Fareed para não ser enterrado simboliza a tragédia das pessoas do Iêmen.
O que diria um pai, que não teve a oportunidade da paternidade para o filho que não veio? ‘Você vai me agradecer meu filho, por eu não ter tido você, querido. Este não seria um bom lugar para você, acredite em mim. Aqui você só iria, assim como eu, aprender sobre guerra, morte, pessoas loucas pelo poder e de lares perdidos’.
Essa história é verídica e interessante porque um fotógrafo testemunhou o fato e contou: “No dia 13 de outubro eu estava andando por uma rua quando ouvi um míssil sendo lançado e me congelei no local, me perguntando onde ele cairia. Quando ouvi a explosão eu corri em direção ao local em que o míssil havia caído. Caiu em uma casa. Vi pelo menos cinco crianças, que estavam brincando do lado de fora, sendo levadas para o hospital em motos. Segui até o hospital e, imediatamente, vi que Fareed Shawky, um dos meninos, havia sofrido ferimentos mais graves. Ele tinha momentos de consciência e momentos sem ela. Fiquei com o coração partido por essa criança. Agora que soube que ele morreu, suas palavras vão ficar comigo para sempre”. ‘Não me enterre’, o menino resumiu tudo.
Piedade por sua alma e de todos os outros jovens mortos ou condenados para morrer nos próximos conflitos e sem nenhuma razão. Este é o mundo que aos poucos fabricamos. Que Deus tenha piedade e misericórdia daqueles que buscam o poder através da força, sem nenhuma razão de o fazerem.