*Luiz Carlos Borges da Silveira é empresário, médico e professor.
Foi Ministro da Saúde e Deputado Federal.
Quando fui ministro da Saúde enfrentei muitos problemas na saúde pública brasileira, naturais na década de 1980. Um dos desafios foi a poliomielite, mal que tinha de ser enfrentado e erradicado pelo único meio existente, a vacinação. Seria questão de tempo, de perseverança, e os resultados apareceriam. Todavia, a receptividade às campanhas de imunização era desanimadora, principalmente entre a população-alvo, as crianças, certamente porque para elas vacina lembrava agulha ou gosto amargo – o que não ocorria com a Sabin. O êxito estava, então, em conquistar esse público através da participação.
Foi idealizado um concurso de redação entre os estudantes da faixa etária que nos interessava para criar um símbolo, um personagem que envolvesse e conquistasse as crianças. Desse trabalho surgiu o Zé Gotinha, ainda hoje utilizado e totalmente querido pelas crianças, muito popular nas campanhas que ganharam força e desde 1988 não temos nenhum caso da temida pólio. E é oportuno destacar que hoje o país tem um dos melhores e mais eficientes sistemas de vacinação. Acredito que o sucesso da campanha de vacinação contra a poliomielite e de outras desenvolvidas foi a conquista através da participação.
Hoje, assistimos governantes e gestores públicos tomando decisões e impondo medidas que o povo acaba não aceitando e muitas vezes se manifestando ostensivamente contra. Com certeza o erro está exatamente na adoção de decisões que já não cabem, pois, o povo deve ser consultado e sentir-se parceiro, advindo daí a participação popular.
Bom governo é aquele que traz o povo para seu lado, que cria empatia e possibilita que os cidadãos sintam-se partícipes, pois quando o povo “compra” a ideia por ela irá lutar; é regra básica da democracia. Enfiar planos, propostas, programas e medidas goela abaixo, por melhor que seja a intenção, não produzem os resultados esperados, às vezes, até desastrosos.
É uma lição tão simples e óbvia, mas difícil de ser assimilada por quem está no poder.