*O jornalista Anderson Fernandes tem 31 anos. É graduado em Comunicação Social – Jornalismo e tem especialização em Comunicação Estratégica pela Universidade Braz Cubas (UBC)
Diariamente casos de racismo são registrados na mídia e principalmente nas redes sociais. Tivemos recentemente uma situação com Neymar durante um jogo do Barcelona contra o Espanyol; e o desabafo do ator inglês, John Boyega, uma das estrelas de ‘Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força’, que disse estar sendo vítima de comentários racistas desde quando foi anunciada a sua seleção para o elenco do longa; e ainda a atriz Sheron Menezzes que precisou tomar providências legais contra ataques em sua página no Facebook. Porém, essas são situações que chegam ao grande público. Acontece que temos também as agressões do dia a dia, com pessoas que estão fora do alcance da imprensa.
Apesar do brasileiro não se considerar racista, como indicou uma pesquisa do Data Popular, o preconceito - a intolerância e o ódio - é uma marca comum no cotidiano dos brasileiros. Está nas casas, nas escolas, nas igrejas, no ambiente de trabalho, em espaços públicos e privados. E como lidar com esta situação? Achei fantástico o posicionamento da jornalista Cristiane Damaceno, 25 anos, agredida nos comentários de uma foto que postou em uma rede social. Em entrevista a um jornal, ela disse que se sentiu abalada à época, mas que transformou os xingamentos em motivos para lutar contra o racismo.
Acredito que independente da ação a ser tomada frente a um caso de discriminação ou preconceito racial, o ideal é sempre se posicionar. Eu, quando tinha 16 anos, trabalhava em uma loja que comercializava móveis e eletrodomésticos. Certa vez, limpando a vitrine do local, um grupo de jovens passou e um deles gritou: “Olha outro macaco analfabeto!”.
Na época, eu estava concluindo o Ensino Médio e sem pretensão alguma de cursar o Ensino Superior. Frente aquele ato covarde eu poderia ter reagido com outra agressão; ou poderia ter ficado chateado e desmotivado; ou simplesmente poderia ter continuado limpando a vitrine. Mas a situação me fez refletir e mudar de planos. Ingressei no curso de Jornalismo e, após formada, atuo na profissão há aproximadamente dez anos e tenho um livro publicado e outro a ser lançando no próximo dia 14 de janeiro, intitulado “Nocaute”.
Acredito que ingressar na universidade e me formar em um curso de nível superior foi uma forma de me posicionar frente àquela agressão. E lançar um livro, que terá um personagem negro como protagonista da trama, é reforçar este posicionamento e principalmente contribuir com o debate sobre a questão do racismo.
Portanto, discriminação e preconceito devem ser combatidos com ações positivas, sejam elas quais for. Como bem definiu Nelson Mandela, ícone da luta contra o apartheid e o racismo na África do Sul: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”. Então é hora de trabalhar e espalhar amor pelo País.