*Américo Tângari Jr. é médico cardiologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
O verão traz mais colorido às cidades, com o uso de roupas mais leves e alegres, uma vontade enorme de perder os quilinhos extras adquiridos no inverno, de recuperar a boa forma e de mostrar um corpo bonito e saudável. Mas tome muito cuidado: essa estação traz também um grande risco de doenças coronárias, especialmente àquelas pessoas que se lançam aos exercícios sem se prevenir contra possíveis sustos – alguns dos quais terminam numa mesa de cirurgia, ou coisa pior.
Quando a temperatura começa a subir, as academias se entopem – há um aumento de 40% na frequência nesta época do ano, segundo a Associação Brasileira de Academias. Seria ótimo para a saúde do brasileiro se todos os praticantes ali estivessem devidamente preparados para isso, mas não é bem assim.
Parece simples subir numa esteira e achar que se está cuidado da saúde, mesmo em velocidades baixas; porém, bom saber que até uma simples caminhada pode ter desfechos desagradáveis. O brasileiro, por exemplo, adora carro e a maioria o leva à oficina para o check-up antes de se aventurar numa viagem. Mas são poucos os que se submetem a um especialista para saber se o próprio corpo está em bom estado.
Convém se preparar para não ultrapassar os limites. Avaliação médica é fundamental antes de começar o trabalho gradativo de condicionamento físico. Pessoas hipertensas devem ficar muito atentas com dor no tórax, cansaço, cefaleia e palpitações. O uso de diurético no tratamento de pressão alta aumenta a perda de sódio e potássio, o que pode acarretar arritmias cardíacas durante atividades físicas intensas. Hipotensos, por sua vez, devem acender o sinal amarelo em caso de tonturas, palpitações e fraquezas – nesse caso, é essencial o aumento da hidratação, de preferência por água.
Os idosos sempre devem consultar um médico antes de iniciar a prática de exercícios e preferir atividades ao ar livre no período da manhã, quando os raios solares são menos nocivos para a pele.
A literatura médica estabelece que pessoas obesas, hipertensas, idosas ou com doenças cárdicas devem fazer da caminhada seu principal exercício, três vezes por semana e em períodos de 40 minutos, buscando manter de 50 a 70% da frequência cárdica máxima.
Bebidas alcoólicas nos hipertensos, hipotensos e diabéticos provocam reação nos rins; o excesso de urina pode afetar o coração, eliminando minerais como magnésio e potássio, que influenciam o funcionamento cardíaco. O perigo vem com alterações no ritmo cardíaco.
É por essas e por outras que a atividade física deve ser orientada e supervisionada por profissionais qualificados para identificar em cada indivíduo suas peculiaridades, vulnerabilidades e potenciais. Alguns exames são importantíssimos para mensurar as condições físicas.
Recomenda-se evitar alimentos com altas concentrações calóricas e ficar atento para manter a circunferência abdominal abaixo de 90 centímetros; a alimentação deve ser mais leve e saudável antes dos exercícios e procure usar roupas leves e confortáveis.
Cuidado com os medicamentos também se torna imprescindível, com uma avaliação especializada para monitorar com maior frequência os níveis de pressão arterial e ajuste das doses, principalmente nos hipertensos.
A avaliação médica hoje é amparada por uma extensa estrutura tecnológica, com exames cada vez mais detalhados, precisos e capazes de identificar ameaças ao organismo e prevenir antes de o paciente ser surpreendido com um infarto ou AVC, que pode ser fatal. Essas doenças muitas vezes permanecem ocultas; por exemplo, na obstrução por placa de gordura na coronária ou mesmo na artéria cerebral, em razão da aterosclerose silenciosa sem sintomas que pode se manifestar subitamente quando se inicia o esforço físico, o que explica o aumento dos casos nessa época, principalmente na faixa etária acima de 55 anos.
Portanto, caminhe, mas antes passe pelo seu médico. Transforme o exercício em prática para a vida, em vez de andar pela contramão.