... dá em Francisco. A política brasileira atual confirma este dito popular. A cena é corriqueira na Câmara dos Deputados: à direita do plenário, oradores do PSDB e do DEM se sucedem, denunciando os escândalos do petrolão, recordando o mensalão e pedindo explicações ao ex-presidente Lula sobre obras no triplex do Guarujá e no sítio de Atibaia, que ele jura que nunca foram seus.
À esquerda, oradores do PT, do PC doB e Sílvio Costa, o mais intimorato dos governistas, ex-PTB e ex-PSC (nem sei em que partido está agora), relembram o escândalo do trensalão e do merendão, e pedem explicações ao ex-presidente FHC sobre o pagamento de pensão à jornalista (cujo filho assumiu) através da empresa Brasif, que ele jura que jamais aconteceu.
No centro do palco, presidindo os trabalhos, o impávido Eduardo Cunha, do PMDB, que deve se tornar réu no STF esta semana, acusado de corrupção passiva, recebimento de propina e lavagem de dinheiro. Sua Excelência nega tudo.
No roteiro em que sujo fala do mal lavado, é evidente que os volumes dos desvios são mais pesados sobre os ombros do PT, que está no governo desde 2003. Mas a ética pública também foi bastante sovada em épocas anteriores. Combater a corrupção sistêmica, estrutural, é um imperativo que poucos assumem, tantos são os rabos presos. Tem razão meu velho amigo Aldir Blanc, em seu artigo “Máscaras e cinzas”, publicado em O Globo no último domingo. Reclama ele que esse Fla-Flu “é Fla-Fla, só um time joga, dá pontapés. (...) não acontece nada com os crapulosos tucanos”. E acrescenta, no seu estilo ferino, sobre uma eventual prisão de Lula: “se ele for criminoso, tudo certo, mas, em nome da decência, prendam o Azeredo, a quadrilha do Paraná, os espancadores de esposas”...
“O mal de certos políticos não é a falta de persistência, mas a persistência na falta”, já dizia o grande Barão de Itararé. Tem razão o Apparício: mesmo com a prisão do marqueteiro João Santana e o recrudescimento da crise do governo, o assunto predominante nos elevadores privativos dos deputados tem sido... pescaria! Sim, só se fala em “fisgar peixes com boa isca” ou “manter os samburás bem fechados, para não perder os seus”. Com a janela do troca-troca aberta, trata-se de conquistar deputados para suas legendas. Paulinho da Força, dono do Solidariedade, comentou que “passe” de deputado está valendo R$ 3 milhões! Dizem que um dos que mais conquistarão Excelências é o PP, atingidíssimo na Lava Jato.
Estamos mesmo no fundo do poço. Que ele seja o ponto de partida para darmos o impulso que tirará o país do buraco tenebroso em que está.