Foi tão extraordinário quanto ter um presidente da Câmara dos Deputados acusado de tantos crimes. O Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, defenestrou Eduardo Cunha, o réu, do mandato federal.
Luís XIV, símbolo do apogeu do Absolutismo francês, dizia que o sol jamais se punha sob seus domínios. Há pessoas cuja relação com o poder e o dinheiro agrega arrogância ilimitada. Com Cunha era assim. Ainda é, quando ele, mesmo destituído, no “jus esperneandi”, diz que “os ministros do STF não devem ter lido a resposta de seus advogados”.
O caído avisa que recorrerá da decisão, ao próprio Supremo. Suponho que tomará de 11 a 0 de novo. Sua perspectiva na vida política é sombria: sem a cadeira de presidente da Câmara, deverá ganhar a cadeia, em julgamento futuro. Uma delação premiada do acusado seria arrasadora para muitos, que agora tremem, e excelente para a República. Fala, Cunha!
Fora isso, o registro de sua passagem na vida pública será como “intruso”. Uma personalidade típica dos períodos de interregno, quando um ciclo não se encerrou definitivamente e outro, realmente “novidadeiro”, ainda não se firmou.
A História faz coleta seletiva de dados e fatos. A atuação de Cunha ficará no setor dos rejeitos, a serem reaproveitados apenas como exemplo do que NÃO se deve fazer.
Não há “cunhismo”, mas suas práticas têm seguidores. Muitos parlamentares, das Câmaras Municipais ao Congresso Nacional, vivem da fusão das políticas públicas com negócios privados, do conluio para tráfico de influência e fraudes em licitações, do êmulo patrimonialista que busca os bens particulares e não o bem comum.
Também agentes dos Executivos e dirigentes de estatais agem assim. E empresários, lobistas e financiadores de campanhas.
Quase todos os partidos acobertam a corrupção enquanto ela lhes beneficia – poucos se insurgiram contra Cunha! - e fazem “cara de paisagem” quando alguns de suas cúpulas são flagrados (o PMDB não expulsará Cunha, ao contrário: colocará no eventual governo Michel Temer gente da sua laia!).
Mandar Cunha embora foi medida drástica e extraordinária em defesa do próprio Parlamento, como ressaltou a Ministra Cármen Lúcia. Mas “segurar o touro à unha” não pode ser tarefa da Justiça. Todos os que estão na vida pública, atendendo ao clamor da cidadania, têm lutar para extirpar da vida nacional o cupim que corrói os fundamentos da Nação.
A Câmara dos Deputados ainda tem a chance de fazer o que lhe compete: cassar definitivamente o mandato que Cunha desonrou. E assim com todos os que vierem a se tornar réus de crimes graves.
O rigor demonstrado por 367 Excelências, inclusive o próprio Cunha, com a presidente da República - que, ao menos até aqui, não é acusada de crime de corrupção -, não pode ficar como espetáculo midiático de má qualidade de um 17 de abril de 2016.