*Luiz Gonzaga Bertelli é presidente do Conselho de Administração do CIEE e do Conselho Diretor do CIEE Nacional.
A história da humanidade nos mostra que muitas atrocidades já foram cometidas por ganância. A escravidão é uma dessas experiências. Página triste da nossa história, quando quase quatro milhões de africanos foram aprisionados e trazidos ao Brasil para trabalhar nas lavouras e nas cidades da época colonial e do Império. Esse modelo abusivo, mas que tinha legitimidade legal, perdurou por cerca de 300 anos, até a nação ceder às pressões internacionais e aos movimentos abolicionistas, que reivindicavam o fim da escravatura. Finalmente libertos em 13 de maio de 1888, pela famosa Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, a nova realidade continuou a ser cruel para os afrodescendentes. Sem moradias adequadas e nenhuma assistência do Estado, grande parte foi alijada do mercado formal de trabalho, como consequência do preconceito racial e do pequeno acesso à educação, entre outras desigualdades. Em função dessa dívida histórica, muitos jovens afrodescendentes encontram dificuldades para se inserir no mundo do trabalho ainda hoje.
Instituição filantrópica e assistencial preocupada com a inclusão de jovens no mercado de trabalho, o CIEE firmou, no último 13 de maio, um acordo com a Sociedade Afrobrasileira de Desenvolvimento Sociocultural (Afrobras), mantenedora da Faculdade Zumbi dos Palmares, para acesso à plataforma de cursos de educação à distância (EaD) do CIEE entre os estudantes. Também foram acertadas ações conjuntas voltadas ao estímulo da inserção de jovens afrodescendentes no mercado de trabalho.
Essas ações visam auxiliar o acesso à cidadania, a partir dos programas de estágio e de aprendizagem do CIEE, para que se desenvolvam com criatividade, responsabilidade e autonomia. A inserção no mercado de trabalho é uma das formas salutares de erradicação da pobreza e correção de desigualdades, promovendo o desenvolvimento sem de discriminação de raça, cor e gênero. A assinatura da parceria pontuou uma solenidade que celebrou os 128 anos da abolição da escravatura. Para o ministro Marco Aurélio Mello do Supremo Tribunal Federal (STF), homenageado no evento, o estágio ganha relevância para os jovens, neste momento em que o mercado de trabalho vive um desequilíbrio entre a oferta de mão de obra e escassez de emprego. Há 52 anos, o CIEE percorre essa rota, encaminhando mais de 16 milhões de jovens para o mundo do trabalho e auxiliando assim a construção da cidadania e de uma sociedade melhor para todos.