Em declaração recente, o presidente interino Michel Temer disse, repetindo uma frase de Tancredo Neves, que Presidência é destino. Podemos imaginar que a coisa funcionaria então mais ou menos assim: o destino escolhe a pessoa que será presidente da República e o acaso vai abrindo os caminhos, removendo os obstáculos e conspirando para que o escolhido chegue ao poder. Apesar do peso do destino e, sobretudo, do acaso.
Só que não é bem assim pelo simples fato de que até mesmo o destino é influenciado decisivamente pelo livre-arbítrio. Sem ele seríamos todos robôs do destino caminhando pela humanidade. Todos os dias faríamos roletas-russas de nossas vidas acreditando que o destino resolveria tudo.
Vejamos, por exemplo, o caso de Lula. A certa altura do seu segundo mandato, ele tinha o poder de eleger seu sucessor. Poderia ter escolhido qualquer um de seu entorno. Porém, como não confiava em ninguém, inventou Dilma Rousseff, a quem ele atribuiu poderes gerenciais extraordinários. Espécie de rainha do power-point, Dilma transpirava competência gerencial à qual acrescentava um tempero forte, com suas contumazes grosserias e impropérios destinados aos subalternos. Deu no que deu.
Será que o destino quis nos pregar uma peça? Será que Lula estava destinado a escolher Dilma ou será que a escolha foi produto de seu livre-arbítrio? Considerando a situação de Lula na época, ele tinha total liberdade para escolher quem quisesse. Imaginem se ele se decidisse porJaques Wagner, administrador razoável, mas de trato ameno? Talvez 70% dos problemas com a base política não tivessem existido. E se a escolha recaísse sobre Aloizio Mercadante? Apesar de seu histórico comprovado de trapalhão e arrogante, Mercadante teria sido pior que Dilma? Como na piada, uns dizem que sim, outros dizem que não.
No fim das contas, o livre-arbítrio influenciou decisivamente nosso destino. Onde entra o acaso nessa história? Em toda tragédia existe uma sucessão de erros, mas também o acaso trabalhando para criar o inesperado. Na escolha de Dilma, o acaso se fez presente. Os dois nomes que tinham a preferência de Lula para substituí-lo no Planalto forma tragados por escândalos. José Dirceu e Antonio Palocci, que disputavam entre si a primazia da sucessão, ficaram pelo caminho.
Fica claro que acaso e livre-arbítrio caminharam juntos. Além do mais, a invenção de Dilma é antiga. Começou nos tempos da campanha de 2002, quando seu jeitão agradou ao chefe. Para surpresa de muitos, Lula sacou o seu nome do bolso do colete e a colocou no Ministério de Minas e Energia – plataforma em que começou, de forma diligente e incansável, a destruir o modelo energético nacional, a Petrobras e a credibilidade fiscal do país. E nos legar um orçamento em frangalhos e obras inacabadas. Certamente Lula deve maldizer o momento em que a conheceu. O livre-arbítrio de Lula traiu a ele e ao país.