Política e futebol no Brasil apresentam semelhanças. Vivem ciclos dramáticos de sucesso retumbante e decepções profundas. Para não ir muito longe na história, busco alguns exemplos. Em 1993, perdemos para a Bolívia para, no ano seguinte, nos sagrarmos campeões mundiais. Em 2001, perdemos para Honduras para, igualmente, no ano seguinte, sairmos campeões mundiais.
Na política, saímos do impeachment de Fernando Collor para a era FHC. Em 2002, com o mercado financeiro aterrorizado pela perspectiva de Lula chegar ao poder, saímos da crise para um ciclo de prosperidade que durou até 2011. Hoje, tanto no futebol quanto na política vivemos tempos de transformação.
O Brasil dos últimos tempos assistiu à destruição de nosso modelo político e de nosso modelo de futebol. A derrota humilhante para a Alemanha em 2014 decretou a morte do nosso modelo futebolístico. Não conseguimos organizar nossos talentos nem tivemos jogadores com entranhas para liderar a seleção como fez agora, de forma magistral, Cristiano Ronaldo.
Tampouco nossos atletas mostraram a garra que a diminuta Islândia mostrou na Eurocopa. A Islândia, com seus 100 jogadores profissionais – algo compatível com a população de profissionais do futebol de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro –, fez o que deixamos de fazer há tempos: enfrentou os desafios com coragem e entrega.
Ganhar nem sempre é possível, mas lutar até o fim com dignidade é o mínimo que se espera frente ao passado glorioso do Brasil no futebol. A derrota para a Alemanha mostrou a morte do modelo, mas não o seu enterro. O modelo ficou insepulto nas mãos do técnico Dunga, que tinha mais arranco e grosseria que liderança. Tal como nossa presidente afastada, Dilma Rousseff, que, igualmente, tem arranco e grosseria e zero de liderança.
A Operação Lava-Jato e o descalabro fiscal e administrativo promovido por Dilma decretaram a morte do modelo econômico brasileiro. Jogaram ao lixo uma situação fiscal cômoda. Incharam a máquina pública com inúteis e aproveitadores. Queimaram recursos em projetos infrutíferos. Uma grotesca incompetência política impediu que a absurda supremacia do Executivo se impusesse sobre um Legislativo omisso e clientelista.
No futebol, temos agora a chegada de Tite. Na política, temos a chegada de Temer. Curiosamente, substituem Dunga e Dilma. Coincidentemente, Temer e Tite se parecem, assim como Dilma e Dunga. Temer e Tite são líderes comprovados. Possuem experiência e habilidades típicas de grandes líderes. São, nesse sentido, absolutamente superiores a seus antecessores.
Enquanto Dunga e Dilma tentavam impor uma liderança forçada, Temer e Tite trabalham cooptando apoios e criando uma liderança naturalmente sugerida. Os modelos de gestão também são parecidos. Tite organizou um sistema tático compacto e de toques, com uso de jogadores técnicos. Dunga centralizou em Neymar suas responsabilidades, assim como fizera Felipão. Com Dunga, não éramos nada sem Neymar. Já Tite, aposta no conjunto. Temer também. Seu ministério é mais compacto, tem um capitão, Eliseu Padilha, e quatro ou cinco subcapitães: Henrique Meirelles, José Serra, Moreira Franco, entre outros. Dilma centralizava o poder.
O que esperar dos novos tempos no futebol e na política? A recuperação será lenta e dolorida, porém, sem dúvida, os comandantes de hoje têm melhores condições do que os anteriores para lidar com suas respectivas heranças malditas. Dilma e Dunga nunca conseguiram organizar um time. Temer, com poucos minutos de jogo e na interinidade, já mostrou um governo em movimento. Esperamos que Tite faça o mesmo.