A literatura dá voz, corpo e identidade a todos os gêneros, etnias e culturas. É por meio de poemas e de narrativas que nos reconhecemos como seres de linguagem no tempo subjetivo e social. Do traço e da fala à tela do computador, uma extensa e diversa teia de tramas faz o registro de nossa travessia.
Historicamente, no entanto, a literatura escrita por mulheres ficou em segundo plano, obscurecida pela exclusão e pelo preconceito. A expressão de talento e criatividade de grandes autoras felizmente prevaleceu, como na linda história da poeta Cora Coralina, homenageada pela FLIV 2016.
O fato de ter estudado apenas nos primeiros anos do ensino fundamental e de só ter estreado na literatura aos 76 anos, com o livro “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”, de 1965, não a impediu de deixar uma obra singular e hoje respeitada, que une o relato memorialístico às reflexões sobre o cotidiano e a vida de pessoas comuns, agora projetadas numa dimensão poética atemporal.
Cora Coralina nasceu na cidade de Goiás, em 1889, e morou no interior de São Paulo durante 45 anos, passando pelas cidades de Jaboticabal, Penápolis e Andradina. Depois retornou a sua terra natal, onde faleceu, em 1985. Tinha orgulho de ser doceira de mão cheia. Recebeu o apoio de jovens escritores para publicar seu primeiro livro e ganhou elogios de Carlos Drummond de Andrade. Foi poeta de palavras cheias e intensas como as águas do rio Vermelho, que corre ao lado da casa onde morou e que hoje abriga o museu com seu nome.
Inspirada na trajetória e na obra de Cora Coralina, a proposta do FLIV 2016 é promover um amplo diálogo entre as múltiplas vozes da literatura brasileira contemporânea.