*Chico Alencar é professor de História (UFRJ), escritor e deputado federal (PSOL/RJ).
“O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente” (Lord Acton, 1834-1902)
Eduardo Cunha é bem mais que o nome de um deputado federal que perdeu o mandato e os direitos políticos pelos próximos 8 anos. Ele representa a exacerbação de uma forma torta e torpe de fazer política no Brasil, na qual o ganho privado abafa e aniquila o interesse público.
Esse modelo corrompido está em crise e vive lenta agonia. Lenta porque ainda tem amplo curso na maioria dos partidos políticos. E não apenas nos chamados ‘nanicos’, de aluguel, mas sobretudo nos grandes que os compram e sofrem de ‘nanismo moral’.
A cassação do mandato de Cunha precisa ser um NÃO ao que ele, com o poder que poucos tiveram na República, tanto representou. Um não à política de negócios, ostensivos ou obscuros, que são, na verdade, negociatas; à política patrimonialista moderna, que se estriba, nessa etapa do capital financeirizado, em investimentos blindados por paraísos fiscais; à política de clientela, da compra de votos, do toma lá dá cá; à política da cumplicidade, do fisiologismo, do corporativismo interpares, do jogo de chantagens e da gangsterização da política; à política da religiosidade manipulada, que explora a boa-fé de nossa gente sofrida, produzindo um “rebanhismo” acrítico; à política das campanhas milionárias, onde quem financia manda e quem compra mandatos retribui depois, usando a máquina pública.
Um não, enfim, à política corrupta negadora da própria dimensão cidadã do fazer político, instituindo o seu inverso: a mera delegação, o estímulo à alienação e ao desinteresse pelo bem comum, sementeira das práticas que produziram o famigerado Cunha.
Sepultamos sua presença na vida pública, mas não todo o obscurantismo que ele alimentou. Ainda há muito o que fazer!