Esperavam-se as ruas pintadas de vermelho e incendiadas, no último final de semana, depois do rufar dos tambores do ex-presidente Lula. Mais: em um partido estruturado à base da unichefia e do centralismo lulista, a expectativa era a de que todos os candidatos petistas vestissem a farda, pendurassem a estrelinha no peito e fizessem da defesa de Lula o carro-chefe de suas campanhas, particularmente em seus programas televisivos.
Nada disso aconteceu. O país não entrou em clima de conflagração, conforme as previsões mais catastrofistas. Não tanto pela força e estabilidade do governo (cujo presidente pode viajar e discursar na Assembleia da ONU, sem correr riscos de ser destronado), mas pela falta de poder de reação do lulopetismo. O ato de domingo na Avenida Paulista foi mais uma demonstração de fraqueza do que de força.
Lula, é verdade, frequentará alguns palanques nessa reta final de campanha, particularmente em cidades onde o PT tem alguma chance de ir ao segundo turno, para dar continuidade à narrativa do “golpe continuado, do qual será a próxima vítima”. A questão é saber se sua presença mais ajudará ou atrapalhará as candidaturas petistas.
Os indicativos são de que Lula, ao contrário de eleições passadas, é um andor difícil de carregar, a não ser nos grotões do país. Por dever de ofício e até para cumprir tabela, os candidatos do PT devem pôr no ar uma nota de 30 segundos de defesa de Lula, preparada pela Direção Nacional. Mas pouco ou quase nada além disso. Pensam, antes de tudo, em sua própria sobrevivência.
E sobreviver não está sendo nada fácil. Com raras exceções, o PT se tornou o partido dos 8% de intenção de voto. Mesmo no ABC, onde nasceu, vai mal das pernas. Deve ficar fora do segundo turno até em São Bernardo. A toada é a mesma em quase todo o chamado “cinturão vermelho” da Região Metropolitana de São Paulo, nas cidades médias do Estado e em quase todas as capitais.
O PT lidera as eleições apenas em Rio Branco e Porto Velho, e passa vexame em Belo Horizonte, ficando atrás do PROS. Em São Paulo o atual prefeito em busca da reeleição, Fernando Haddad, corre sérios riscos de ficar fora do segundo turno. Com um desempenho inimaginável há um ano, pode até não alcançar a casa de dois dígitos dos votos.
A dez dias do pleito, não se vislumbra um milagre capaz de salvar o PT da hecatombe eleitoral.
O problema não é apenas o exército enfraquecido, sem poder de reação. É também o fato de seu comandante em chefe ter sido absolutamente surpreendido e obrigado a rever sua estratégia com suas divisões já em movimento. Quando não bem executada, a manobra costuma criar mais confusão e dispersão.
Consumado o impeachment, o estratagema do caudilho parecia adequado ao novo momento, capaz de levar sua tropa à ofensiva por meio do “Fora Temer”. Nos seus planos, essa bandeira serviria para tirar as candidaturas petistas da UTI e aplainar o terreno para seu retorno em 2018. Nesse escopo, concebeu-se o 22 de setembro como um dia de paralisação nacional, uma “greve geral”, como os mais afoitos passaram a chamar, para emparedar o governo às vésperas da eleição.
Lula calculava que, antes do pleito, as massas já estariam sublevadas contra as reformas que retirariam “direitos”.
O presidente Michel Temer, porém, não se deixou cercar. Internacionalmente está refazendo as pontes e negocia com parte das centrais sindicais as reformas previdenciárias e trabalhistas, para reduzir as resistências. Fica difícil mobilizar contra a “retirada dos direitos” se não está patente para as massas qual direito, concretamente, está sendo retirado.
A ação fulminante do Ministério Público Federal embaralhou tudo. Em vez de fazer um movimento ofensivo, Lula teve de passar para a defensiva. Foi forçado a construir toda a narrativa para evitar a paralisia de suas tropas. Conseguiu, no curto prazo, manter a coesão interna. Não ganhou, porém, a batalhas das ruas. E nem os corações e mentes dos brasileiros.
Dois fatores determinam o chabu da estratégia.
A bandeira da defesa de Lula não tem o mesmo apelo do “Fora Temer”. Não unifica nem mesmo os segmentos que pregam “Diretas Já”. Seu poder mobilizador limita-se às fileiras internas. O SOS Lula, por sua vez, bate de frente com o sentimento majoritário da sociedade.
Independentemente de eventuais excessos, a Força Tarefa da Operação Lava-Jato é admirada e respeitada pela maioria dos brasileiros. Uma coisa é eleger os parlamentares do Congresso Nacional ou Temer como “golpistas”. Outra é carimbar esse selo na testa do Ministério Público e do Judiciário.
Isso não cola. Lula que o diga. Já é réu e sem privilégio de foro. Terá de se ver com o juiz Sérgio Moro.