O ex-presidente Lula não visou o grande público em seu artigo “porque querem me condenar”, publicado em jornal de circulação nacional. A essa altura do campeonato, o caudilho tem plena consciência de que suas palavras são inúteis para mudar a convicção dos brasileiros quanto às suas responsabilidades nos delitos praticados em seu governo e por seu partido.
Ele usou o jornal para falar com as fileiras internas do Partido dos Trabalhadores, engalfinhadas em uma guerra intestina; com tudo para desaguar no desmanche do PT.
Desde o resultado das urnas o Partido dos Trabalhadores entrou em estado de liquefação. Enquanto sua cúpula brinca de avestruz e empurra a crise com a barriga, a avalanche vai se formando.
Impossível detê-la com o apelo à unidade, em nome da “defesa de Lula”, ou com vigílias em frente do prédio onde mora o ex-presidente, para evitar sua suposta “prisão iminente”.
O real é o ultimato dado por um grupo expressivo de parlamentares para que até o início de dezembro seja convocado o congresso partidário e para a antecipação das eleições internas.
Os parlamentares, claro, miram em 2018, sabem ser mínimas suas chances de reeleição por uma legenda que acabou de ser escorraçada das urnas.
A pressão por mudanças vem também das tendências mais à esquerda, que vão direto na jugular de Ruy Falcão, presidente nacional do partido, e de outros dirigentes vinculados à tendência majoritária “Construindo um Novo Brasil”.
O PT hoje é uma nau à deriva, na qual sua tripulação, ou parte dela, se indaga se já não é hora de se jogar no mar e se agarrar em alguma tábua de salvação.
Essa boia pode ser a proposta de uma “frente ampla”, ou melhor, uma frente de esquerda, um contorcionismo de petistas para driblar sua crise.
Nada a ver com a “Frente Amplio” do Uruguai, construída por meio de um longo processo, iniciado em 1971, e no poder há 15 anos. Aqui seria uma cortina de fumaça onde o PT se esconderia dos eleitores em 2018, face à sua queimação ampla, geral e irrestrita.
E como se daria essa “frente ampla”? Por meio de uma fusão com outras legendas? Quem irá querer se fundir com o PT, ou mesmo se coligar com ele, na próxima disputa presidencial? E o candidato desta frente, digamos Ciro Gomes, faria a defesa em seu palanque dos governos Dilma e Lula?
Uma “frente de esquerda” para 2018 é uma ideia natimorta. Todo mundo quer distância do PT, a começar pelo PSOL, que, bem ou mal, concorde-se ou não com suas ideias, conquistou um lugar ao sol, sem nenhum trocadilho.
O PSOL aposta na polarização ideológica, em ser o reverso da medalha do deputado e pré-candidato pelo PSC, Jair Bolsonaro, na próxima disputa presidencial. Não vai se diluir numa frente.
Mesmo o PDT de Ciro Gomes, um caleidoscópio ideológico, pensará duas vezes se aceita, ou não, a composição com o PT; se isto agrega votos ou se lhe condena a uma derrota.
No PT, só há um consenso: o de que não há consensos. Daí cada cabeça ser uma sentença entre seus parlamentares. Para uns, a salvação está em criar uma nova legenda, tarefa nada fácil se o horizonte for ser competitivo nas eleições de 2018.
Sair agora a campo para construir um novo partido pode ser uma enorme aventura. Mas ficar no Partido dos Trabalhadores provavelmente será o caminho mais rápido para a não reeleição.
Político que se preza, pensa, antes de tudo, na sua sobrevivência. Não será diferente com os parlamentares petistas. Provavelmente percorrerão o caminho mais seguro, a revoada para outras legendas para ter tempo de TV e acesso ao fundo partidário. Pode até ser uma dessas legendas de aluguel disponíveis no mercado.
Quem diria, o desmanche do PT pode escoar no PT do B. Vá explicar para os eleitores que são coisas diferentes...