*Fábio Ferreira – jornalista, radialista e diretor do Grupo Cidade de Comunicação
Que terça-feira mais triste. Ainda neste mês, em Brasília, estive com Deva Pascovicci, narrador da “Fox Sports”, para assinatura da migração das rádios AM para a faixa FM. Ele estava radiante com a conquista da sua CBN Grandes Lagos, de Rio Preto. Em um jantar naquela noite, ele confidenciou que aquela era a grande chance dele voltar a morar perto da família no interior de São Paulo. Deva estava cansado da vida longe de casa. Me disse que já não aguentava mais voos e aeroportos.
Aliás, na profissão, Deva foi uma das pessoas mais humildes e simples que conheci. Era gente como a gente, a ponto de muitas vezes nem parecer que aquele era simplesmente o narrador oficial de um dos maiores canais de esporte do país. E mais. Deva era popular, ao contrário de muitos globais e famosos da imprensa, ao ser reconhecido na rua ele abraçava as pessoas e conversava como se fosse amigos há anos.
Em Brasília, naquele dia, ele havia chegado de carro alugado depois de dirigir toda a noite sozinho do Rio de Janeiro até la. Amigo de longa data de rádio do meu pai João Carlos Ferreira, fui apresentado a ele nas cabines de imprensa de um jogo do Corinthians no Pacaembu, quando ainda trabalhava na imprensa da capital. Na época, Deva narrava pela rádio CBN São Paulo. Desde então sempre que me encontrava me tratava com muito carinho e atenção.
Em nossa última conversa, em um restaurante de Brasília, eu falava sobre a dificuldade de fazer jornal e rádio no interior, e ele me aconselhou longamente sobre como dar o melhor de si sem importar onde esteja. E assim, compartilhou a história do dia que ele, no comando de esportes da Rádio Cultura de Jales, uma pequena emissora do interior, fez a loucura de viajar aos Estados Unidos para transmitir o pré-olímpico de basquete, mesmo com todas emissoras de televisão presente.
Deva contou que naquele dia o sinal de televisão caiu durante uma partida da Seleção Brasileira, e aquela pequena rádio do interior se tornou o único meio de informação para todo o país. Assim era o Deva, um sonhador. E como meu pai costuma falar toda vez que ele aparecia na televisão: “olha o Devair Paschoalon, virou Deva Pascovicci, e olha onde chegou”.
Meu profundo sentimento a todos os colegas de imprensa, jogadores, tripulantes e demais envolvidos nessa tragédia aérea da Chapecoense. Um abraço confortante aos familiares do amigo Deva Pascovicci, que para mim sempre será um dos maiores narradores da história do rádio esportivo.