É novembro – um mês um pouco sem
gosto para o cenário político, se comparado a agosto. Algumas prisões em
outubro, um ou outro discurso – mas tudo morno de novo. O impeachment já teve
seus 15 minutos – mas um filme de um pouco mais de 3 horas trouxe-o à tona de
novo.
Conheci Julgamento de Nuremberg
(1961) com um professor da faculdade. Era uma quinta como as outras quando ele
nos colocou, em forma de trabalho, frente a frente com o maior tribunal de
exceção que a história já conheceu. Dotado de uma trama que tenta balancear seu
peso com um romance superficial, a problemática tem um eixo bem delimitado:
vencedores que, em cenário de pós-guerra, julgam os vencidos.
Até aqui pode ficar obscuro o
paralelo entre o filme e o impeachment. Mas, se pararmos para observar os atos
daqueles dias tardios de agosto, veremos uma dualidade conhecida: quanto ao
número de representantes ocupantes de cadeiras, temos uma clara visão dos
vencedores julgando, de novo, os vencidos.
Justiça versus
orgulho nacionalista. Motivações jurídicas versus motivações políticas. Lá e
cá, a imparcialidade ficou mitigada por questões menores e menos modestas.
Outro tempo, em outro meio de comunicação, ouvi um cientista político dizer que
o mês de agosto nada mais foi do que a manifestação de uma herança maquiavélica:
quem está no poder tencionando manter-se no poder – uma vontade que pode ser
facilmente satisfeita quando o peso- das palavras ou das armas – está com um
dos lados.
O impeachment já teve seus 15 minutos
e agora, mais algumas linhas. Nuremberg, com seus nazistas e suas forcas,
jamais sai de pauta. Um e outro, tão diferentes quanto semelhantes, trouxeram
um desfecho que fere a justiça – ou pelo menos a imparcialidade da qual ela
necessita para alcançar seu fim. Um show de potências gravado para confortar o
povo comum.
Qualquer dia lançam por aí um filme
que a gente, graças aos jornais, podemos acompanhar em tempo real: Julgamento
de Dilma Rousseff – mais uma das versões contadas por vencedores.
*Vânia Caires*