As palavras podem servir para não dizer. Elas, para se realizarem plenamente, precisam de um complemento: a compreensão de quem lê, de quem ouve.
Carlos Drummond de Andrade, para quem “escrever é cortar palavras”, recomendava: “penetra surdamente no reino das palavras”. Com carinho e cuidado. Com delicadeza.
Na cena pública atual, mais do que dizer, propor, expressar pontos de vista, muitos preferem vociferar, gritar seus dogmas, proclamar verdades absolutas. Ganhar no grito.
A título de provocação à reflexão, desfilo expressões de uso comum que podem ser bem enganosas. Ou que, na minha percepção, não revelam a realidade na sua contraditória inteireza.
Quando alguém fala em “classes produtoras”, por exemplo, a referência é sempre aos empresários, aos detentores das terras e fábricas, dos meios de produção, do Capital. Então os que lavram, constróem prédios e estradas ou fabricam objetos não são “produtores”?
Os projetos da “escola sem partido” pressupõem que há escolas “com partido”. Na verdade, o que nossa rica cultura pedagógica – uma das melhores do mundo! – consolidou é a educação que “toma partido”, isto é, ajuda o alunado a descobrir o mundo e criar uma reflexão crítica sobre ele, ao invés de aceitá-lo passivamente como é. Doutrinarismo não combina com uma escola plural e democrática.
Quem acusa, com raiva, os “defensores de bandidos” está, muitas vezes, revelando desprezo aos Direitos Humanos e cristalizando a noção de que quem delinquiu não merece viver e ter chance de se recuperar. Clamar por direitos não é estimular o crime, mas o contrário: pugnar por uma Justiça que possa corrigir e reintegrar. Além do mais, como dizia Gandhi, “na linha do olho por olho, em breve tempo estaremos todos cegos”. O “fora da lei” costuma agir de forma violenta e irracional. O Poder Público tem o dever da racionalidade.
Quando se fala de “ideologia de gênero” está se tentando castrar algo fundamental: todo(a)s têm direito ao autoconhecimento, à construção de sua identidade, da qual a sexualidade faz parte, nas suas diferentes manifestações, sempre se respeitando as etapas cognitivas de maturação. Essas informações, no ambiente escolar, ajudam a construir uma sociedade mais saudável, menos traumática e sexista.
Por fim, nunca é demais repetir que o maior garantidor do direito de crença e de não crença é o Estado Laico, tão ameaçado pelos que entendem como “missão” combater os “hereges” e expandir o poder político de sua igreja.