Amanhã velho será. Esse mesmo verso, com um pouco mais de
repetições, é bem conhecido. Chaves entrou em, senão em todas, quase todas as
casas dos brasileiros. O que não era conhecido desse mesmo povo era que em
certo tempo veria ele ameaçado alguns direitos- que quando ninguém parava para
pensar sobre, não pareciam assim tão essenciais.
Nesses últimos dias o governo Temer mudou sua propaganda. O
que era residual ganhou ênfase- e criaram uma crise no sistema previdenciário
nacional. Sem divulgação de planilhas ou qualquer outro dado concreto, o
sistema, antes solidário, ganhou cara de totalitário. Seguindo a nova lógica
Temerista, a previdência enfrenta um déficit que só pode ser sanado se outro
lado for tornado deficitário: o do trabalhador.
Com proposta para reformar nosso RGPS, a PEC recém elaborada
(por, diga-se de passagem, pessoas aposentadas) aumentou o tempo de
contribuição do trabalhador comum. Para que este hoje consiga aposentar com seu
salário integral (mesmo que limitado pelo teto), deve ele contribuir por um
tempo inadequadamente maior. Para fins de ilustração, uma pessoa que entre no
mercado de trabalho com 16 anos (idade mínima para ingresso no regime),
precisará trabalhar até os 65 anos para gozar de tal “benefício”. Enquanto
isso, a tábua de mortalidade do IBGE destoa da referida situação.
Trazendo como expectativa de sobrevida 75 anos, a referida
Tábua “mata” antes da aposentadoria aqueles que ingressaram no serviço mais
tardiamente (como os que ingressam aos 27, que, contribuindo ininterruptamente,
só adquirem direito ao salário integral aos 75) e deixa um tempo de, em uma
média “animadora”, 10 anos para os que bem cedo começaram. Ou seja: ou a nova
regra te mata antes de sua aposentadoria, ou pouco tempo depois.
É fato que nosso país enfrenta um período de transição
demográfica. Todos conhecemos o fenômeno do encurtamento da base da pirâmide
etária e a consequente ênfase de seu tempo. É característica de países
desenvolvidos essa inversão- mas não somos desenvolvidos. Nosso sistema de
saúde é deficitário, nossas condições de trabalho ainda são em certa parte
desumanas, nossas leis são pouco eficazes. É fato pacífico que outros países
também adotam essa média para sua aposentadoria- mas nestes, efetivamente
vive-se MAIS, e MELHOR.
A realidade brasileira é inversa ao déficit do sistema: a
maior falta está nas pessoas que não tiveram instrução suficiente para manter
documentos que facilitassem seu processo de aposentadoria. Falta em seus
bolsos- quando em seus rostos transbordam cansaço e tristeza. A maior falta é
do governo para com o povo- para que aumentasse a sobrevida, para que as
condições fossem outras. Para que não precisassem inventar uma crise do nada só
pra não precisar mexer em suas regalias.
*Vânia Caires*