O salão de festas do legendário hotel Waldorf Astória, em Nova York, estava lotado pela nata do empresariado americano na noite de 21 de setembro de 2009. Lula era o pop star do jantar onde estava recebendo o prêmio Woodrow Wilson for Public Service, concedido a políticos e empresários.
Em seu discurso, o então presidente da República, falou do “momento mágico” que o Brasil vivia e cumprimentou nominalmente apenas três pessoas: Luiz Dulci, secretário Geral da Presidência; Rex Tillerson, presidente mundial da ExxonMobil e hoje Secretário de Estado de Donald Trump, o principal cargo do governo dos EUA depois do presidente; e “o nosso companheiro Eike Batista”.
Eike Batista era a principal grife da política de “campeões nacionais”.
De fato, turbinado por um empréstimo do BNDES de R$ 10 bilhões, Eike já era o sétimo homem mais rico do planeta, dono de uma fortuna de R$ 30 bilhões e “orgulho do Brasil”, como a ex Dilma Rousseff o chamava.
O empresário-padrão parecia um novo Midas. Tudo em que tocava virava ouro, sem nenhuma ironia com seu parceiro Sérgio Cabral.
O império de Eike ruiu abruptamente em 2013 quando a joia da coroa, a petroleira OGX, foi à bancarrota porque os poços perfurados não tinham petróleo. O prejuízo ficou para os credores e investidores, entre eles o BNDES e fundos de pensão, que caíram no conto do “petróleo dos tolos”.
Em suas mãos ficaram ações micadas, algumas das quais com valor de centavos.
Para se ter ideia do tamanho do golpe: ao surfar no otimismo da era Lula, Eike Batista captou R$ 27 bilhões no mercado de capitais.
Diante do rotundo fracasso do maior símbolo do “momento mágico” lulista, o então presidente do BNDES, Luciano Coutinho, procurou amenizar o colapso como “acidente”, ao qual o mercado estaria “acostumado”.
Explicação mais estapafúrdia só mesmo a do místico Eike Batista. A culpa, dizia ele, foi de uma conspiração dos astros.
Acidente de percurso coisíssima nenhuma. A derrocada do grupo Eike foi o corolário de uma sucessão de vexames da estratégia lulopetista de eleger um “núcleo de empresas vencedoras”.
Nesta aventura o BNDES jogou cerca de R$ 40 bilhões em transações no mínimo duvidosas, como a OI/Telemar (a supertele criada para concorrer com as multinacionais), a campeã de laticínios LBR (que simplesmente quebrou), o grupo Bertin (que deu um vexame bilionário nos segmentos de carnes e energia) ou, dentre tantos outros, o frigorífico Marfrig (que recebeu R$ 3,6 bilhões de dinheiro público em aportes em troca de ceder 19,6% de seu capital ao BNDESPar).
No Brasil, nada se exigiu em contrapartida. Bastava ser amigo do rei.
Irmã gêmea dos campeões nacionais, a estratégia de se fomentar a substituição das importações no setor de óleo e gás, gerou a enroladíssima Sete Brasil.
Como suporte de tantos desatinos, o Tesouro Nacional injetou 350 bilhões de reais no BNDES, em apenas quatro anos.
Um espanto: o Tesouro captava recursos a juros da taxa Selic (12,75% em 2009) ao ano e repassava ao BNDES a juros de longo prazo, 6% ao ano. Por sua vez o banco fazia empréstimos de pai para filho a grupos privados escolhidos seletivamente.
Assim foi criado o capitalismo de laços descrito no livro de Sérgio Lazzarini, professor do Insper. Nessa modalidade, a acumulação de capital não se dá pela via da concorrência, de ganhos de competitividade e produtividade, mas pelas conexões de seletos grupos com o Estado.
Eike Batista é filho legítimo deste capitalismo de compadrio. Não seria o que foi sem o “momento mágico” de Lula, sem a “nova matriz econômica” de Dilma.
O empresário queridinho dos governos petistas se apresenta à Justiça disposto a abrir o bico. Tem muito a contar sobre a política de campeões nacionais.
E é possível que Lula e “o companheiro Eike”, que hoje já vive no complexo penitenciário de Bangu no Rio de Janeiro, voltem a se encontrar. Não mais no luxuoso Waldorf Astória.