*O professor Manuel Ruiz Filho colabora com este jornal –
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Sim, isso mesmo professor. Entrego-lhe meu filho para que você possa fazer dele uma criatura capaz de entender o mundo com fórmulas matemáticas, com fórmulas científicas, filosóficas e também cívicas. Os conceitos educacionais e religiosos deixa que eu transmito as fórmulas de casa mesmo. Essas fórmulas caseiras são ensinamentos gerados no seio da família, portanto são conteúdos genéticos que passam de pai para filho, de geração para geração. Meu filho terá que aprender contigo que nem todas as pessoas praticam a justiça e a verdade dentro de si, mas para cada desequilibrado socialmente há um homem lúcido que lhe mostra o caminho; para cada malfeitor existe uma criatura que sabe alinhar os tijolos e construir um mundo melhor. Ensina-lhe que o dinheiro não é feito em fundo de quintais, nem por acaso achado em ruas e calçadas. Diga-lhe que o suor do trabalho é a ferramenta indispensável para que o dinheiro lhe chegue às mãos.
Professor ensine meu filho, assim como eu o farei, que perder é uma consequência da luta em busca do melhor e não um resultado trágico de não ganhar. Ensina-lhe que a derrota muitas vezes nos coloca ao pé da realidade e que sem ela continuaríamos cegos da sabedoria. Quando meu filho estiver no pátio da escola brincando com seus colegas de sala diga-lhe que é honroso aceitar que o coleguinha ganhe. Que a perda é uma situação de alternância, ora nas mãos de um ora nas mãos de outro. O que precisamos saber é que toda perda trás dentro de si um novo aprendizado. Ensina-lhe que a gentileza de servir é uma arte de qualidade inigualável e que poucos a possuem. Faça-o entender isso.
Ensina-lhe a participar de coisas saudáveis e a acreditar em si mesmo porque o mundo irá colocá-lo em situações de escolha que por vezes estará sozinho. Ensina-lhe a ser persistente com as coisas que busca, responsável com as coisas que lhes são colocadas nas mãos para que tenha consciência de guardá-las em segredo ou em ocasiões outras, que distribua aos que delas precisem. Professor ensine meu filho a ser severo com os severos, mas não ensine a ser justo porque isso é minha tarefa, se eu não for ele não o será, apenas reforce se for preciso. O equilíbrio da justiça eu repasso o que recebi de meus pais.
Claro que a criança pode esquecer isso por momento, nessa hora sim eu te peço que reforce meus ensinamentos de casa. Professor, explique a meu filho que rir ou chorar são sentimentos iguais, portanto muitas vezes choramos quando o momento é de alegria e também rimos quando a tristeza nos surpreende. Essas situações não têm limites. Quando se sofre um desconforto, uma decepção merecedora de choro é preciso lembrar que tudo poderia ter sido pior. A vida recomeça todas as vezes que nos propomos a reiniciá-la. É sempre salutar recomeçar a viver porque quando nos propomos a isso as pedras saem do caminho como se fossem folhas secas deslocadas pela força do vento. Até parece que Deus assopra para não tropeçarmos novamente nas mesmas. Professor me ajude a incutir no meu filho o sabor e a graça da leitura, isso o fará ter novas ideias e abrirá um campo ainda maior para desfrutar do que a vida tem de bom e de melhor.
As pessoas que leem acabam por ter ideias iluminadas e com isso contribuem para um mundo aos moldes dos sonhos de quem o idealizou. Professor, amigo e colaborador na formação do meu filho, faço minhas as palavras de Lincoln: “Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço, deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso. Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e também fé em si, pois só assim poderá ter fé nos homens”.