Pela leitura que tenho feito não tenho dúvida, se Cristo fosse escolher Seu 13º apóstolo seria ela: Irena Sendler. Ainda vive em Varsóvia, na Polônia, essa heroína conhecida em seu país natal, mas completamente no anonimato. Uma mulher fechada que nunca quis aflorar sua vida dos tempos de guerra. Não fosse a pesquisa de um grupo de alunos de um Instituto do Kansas-EUA no ano de 1999 seu trabalho sobre os heróis do Holocausto pouco teria sido reconhecido. Constatou esses alunos que essa mulher foi responsável pelo não sacrifício de 2.500 meninos. Hoje é uma anciã de quase 100 anos residindo num Asilo no centro de Varsóvia, num quarto todo florido e cheio de cartões de agradecimentos de pessoas do mundo inteiro. Numa invasão da Polônia feita pela Alemanha, Irena era enfermeira no Departamento Social de Varsóvia. Em 1942 os nazistas criaram um bairro em Varsóvia (gueto) onde os judeus deveriam ficar isolados e ali eram obrigados a morar.
Nessa época fugia-se de tudo, inclusive de doenças contagiosas advindas das situações mais caóticas com que vivia esse povo, principalmente a doença do tifo. A proliferação dessa doença era tão grande que Irena se ofereceu para levar as crianças fora dali e seu principal obstáculo era o convencimento dos pais. Pode prometer que meu filho viverá? – perguntavam eles. Como poderia prometer se nem sabia ainda se poderia sair com essas crianças. Mas, uma coisa era certa, se ficassem todas morreriam. Nem sempre Irena conseguia isso junto às famílias, mas sempre que voltava aos campos de extermínios constatava que algumas famílias já tinham sido sacrificadas. Cada vez que isso era constatado por Irena, aumentava sua força ainda mais, na difícil tarefa de salvar essas crianças. Era difícil separar as crianças de seus parentes, embora isso Irena entendesse perfeitamente.
Com ajuda de algumas pessoas ela criou documentos falsos para as crianças dando identidade temporária aos meninos judeus. Vivia ela nos tempos de guerra sem nunca deixar de pensar nos tempos de paz, por isso não se cansava de manter com vida esses meninos. Torcia para que todos pudessem um dia recuperar seus verdadeiros nomes, suas identidades, suas histórias pessoais e suas famílias. Anotava os dados de cada criança em pedaços de papel que enterrava dentro de potes de compotas debaixo de uma macieira no quintal do vizinho. Nesse local guardou o passado de 2.500 meninos até que os nazistas se foram. No ano de 1943, Irena foi presa pela Gestapo (polícia secreta alemã) e levada a uma prisão onde foi brutalmente torturada. Num esfarrapado colchão de palha da sua cela encontrou uma estampa de Jesus Cristo, ficou com ela até meados de 1979 quando doou ao Papa João Paulo II. Ela era a única que sabia dos nomes e onde se encontravam as famílias que deram amparo aos meninos judeus. Suportou todo tipo de tortura e se recusou a trair seus colaboradores ou a qualquer um desses meninos. Quebraram-lhe os pés e as pernas, mas ninguém conseguiu arrancar dela essa informação. Condenada a morte que não aconteceu porque durante a trajetória do local da execução um soldado a deixou escapar. Nada de especial fez o soldado porque sua intenção não era vê-la livre e sim não deixá-la ir embora sem que seu segredo fosse revelado. Seu nome ficou na lista dos executados.
Arranjou uma identidade falsa e continuou trabalhando em pró dessa causa. No final da guerra ela mesma desenterrou os vidros de conservas e fez uso das anotações para encontrar os 2.500 meninos que colocou com famílias adotivas. Anos mais tarde, quando a sua historia saiu num jornal junto com suas fotos da época, diversas pessoas começaram a chamá-la para dizer: “Lembro-me de seu rosto... sou um daqueles meninos, lhe devo a minha vida, meu futuro, e gostaria de vê-la!” Seu pai que era médico, impregnou na memória de Irena quando pequena: “Ajude sempre a quem estiver afogando, sem levar em conta a sua religião ou nacionalidade. Ajudar cada dia alguém tem que ser uma necessidade que saia do coração”. Irena vive há anos numa cadeira de rodas, por causa das lesões causadas pelas torturas sofridas pela Gestapo e não se considera uma heroína. Nunca reivindicou crédito algum pelas suas ações. Poderia ter feito mais, sempre responde. Tenho certeza absoluta que essa mulher de olhar lânguido, onde quer que esteja, representa nos tempos de hoje uma heroína na essência da palavra, que sem dúvida seria nos nossos tempos o décimo terceiro apóstolo escolhido por Jesus Cristo.