A expressão pode andar desgastada, mas a situação que ela define é mais que verdadeira. Estamos diante de um momento crucial, no sentido de que seremos obrigados a tomar uma decisão indispensável para impedir uma degringolada nacional. Refiro-me, é claro, à questão da reforma da Previdência.
Envolvidos por uma complicada teia de discursos ambíguos e contraditórios, nem todos estão percebendo o caráter fundamental da decisão que se avizinha. Mas um simples exemplo pode esclarecer o quadro.
O país inteiro assistiu recentemente – com um misto de tristeza, frustração e revolta – ao noticiário sobre o colapso financeiro do Rio de Janeiro. De repente, as manchetes escancararam a realidade de um Estado que simplesmente não tinha mais como pagar as suas contas. E não honrava sequer o salário de seus trabalhadores.
Pois bem. Se não fizermos já a reforma da Previdência, o Brasil irá reproduzir, em escala de fato nacional, a situação cruel do Rio. Não será apenas o sistema previdenciário que estará definitivamente comprometido. É o país, em seu conjunto, que vai quebrar.
De uma parte, não haverá como garantir os direitos de milhões de aposentados e pensionistas. Mas também muitos trabalhadores ficarão amargamente à espera de seu salário, mergulhando num cotidiano de angústias e incertezas.
Sim, chegou-se a este ponto. O Brasil, hoje, é um país que apresenta problemas críticos e problemas crônicos. A distinção é importante. Problemas críticos são problemas graves, difíceis de resolver. Mas que se tornam crônicos quando, sem perder a gravidade, perduram no tempo – e se aprofundam, correndo o risco de se mostrarem insolúveis.
É a falta de coragem política para enfrentá-lo o que faz do problema crítico um problema crônico. E foi justamente isso o que aconteceu no caso da Previdência. Sucessivos governos, pensando sempre mais em eleições e sempre menos no país, escolheram o falso conforto do adiamento. Empurraram o problema com a barriga. Até nos trazer à atual encruzilhada do ou vai ou racha.
Por nós, do governo, vai. E penso que o Parlamento saberá assumir sua responsabilidade nacional, sem se deixar render por qualquer oportunismo político.
A hora é de retirar o olho do voto – e se concentrar na defesa das verdadeiras necessidades da população. Mesmo porque votos só virão se o país voltar a se desenvolver. Caso contrário, se o desmantelamento nacional prevalecer, podem tirar o cavalo da chuva: não haverá voto para ninguém.
Sim. Porque se o Brasil quebrar, se o Estado não tiver como honrar seus compromissos, a bomba vai explodir nos ombros das classes trabalhadoras. Estima-se aliás que, se isto acontecer, a retração drástica dos investimentos fará com que o número de desempregados aumente para 20 milhões.
Da classe média para baixo, a vida vai piorar – e não será pouco. A crise social se tornará mais aguda. E o que é pior: sem perspectiva de melhora, desde que não haverá dinheiro para a criação de postos de trabalho, nem para desenvolver programas sociais e pagar aposentadorias.
Em suma: votar contra a reforma, será votar contra o Brasil. Contra o povo brasileiro. E é evidente que isso não vai render voto algum. O que a população procura não é a tempestade, mas o porto seguro. O mar aberto do avanço econômico e social.
E se por acaso o Estado ceder à tentação de (ou se sentir obrigado a) emitir dinheiro para bancar as despesas, irá reacender a roda viva da inflação – ferindo fundamente, mais uma vez, os trabalhadores.
É por isso mesmo que acredito que nossos parlamentares não irão ficar voltados egoística e equivocadamente para eleições, monomania que vem comprometendo todo o sistema político nacional perante os olhos cada vez mais atentos da sociedade. E que o Congresso saberá fazer a sua parte – fundamental – para que o Brasil não descarrile.
Sabemos todos que é péssima (e pode se tornar terrível) a situação dilemática de um país que se vê obrigado a escolher entre reforma e retrocesso. Mas é muito pior (e pode se tornar trágica) a situação de um país que não tem escolha, desde que a alternativa à reforma não é o retrocesso – mas o caos.