A maior crise política que já se abateu sobre o meio político brasileiro pode trazer algo positivo para país. Em meio aos escândalos, ao recebimento de propina de toda espécie, ao envolvimento de caciques políticos dos mais variados partidos e a descoberta dos departamentos de roubalheira instalados nas maiores empresas no país, surge a oportunidade de colocar na pauta de discussão do Congresso Nacional o que há muito os últimos presidentes da República já deveriam ter feito: um grande debate, com a participação de parlamentares e membros da sociedade para a formatação de um projeto robusto de reforma da estrutura do Estado.
É óbvio que a aprovação de uma proposta desse calibre não se dará no ápice da crise, mas a turbulência pode servir de ponto de partida, pois creio que a maioria da sociedade é unânime em reconhecer que o Brasil de hoje conta com uma estrutura carcomida que não é capaz de blindar o país da corrupção e nem tem capacidade para gerir com eficiência os serviços públicos.
É hora de uma verdadeira refundação do Estado brasileiro. No centro dessa discussão precisamos definir se queremos manter o mastodonte ou vamos enxugar o aparato estatal, promovendo privatizações em algumas áreas, parcerias em outras e, se viável, a remodelação completa de alguns órgãos públicos como as agências reguladoras que hoje mostram total ineficiência no atendimento ao público e por muitas vezes atuam mais como defensoras das empresas que deveriam fiscalizar.
De imediato o termo privatização vai causar gritaria, esperneio e alegações de que os promotores da reforma querem botar os servidores públicos no olho da rua. Mas quem disse que precisa ser assim? Remanejamentos e reforço das deficientes áreas de fiscalização podem ser um caminho. Só é preciso cuidado para não botar, novamente, as raposas para cuidarem da granja.
Junto de tudo isso o país precisa passar por um grande programa de desburocratização. Trata-se de uma praga que nos transforma em um Estado cartorial e que facilita a vida de políticos e burocratas corruptos. O Brasil de hoje necessita urgentemente de um choque de modernidade para ingressar, mesmo que tardiamente, no século 21.
Não é hora de criminalizar e política e sim de punir os maus políticos e os empresários sanguessugas. Também não é hora de jogar para a plateia. Sempre que surge uma crise se fala em realizar uma ampla reforma política. Mas ela de nada adianta se não reformarmos a estrutura do Estado. Essa, sim, é a mãe de todas as reformas. De outra maneira, o país conviverá permanente com o atraso ético e administrativo que hoje está condenando uma Nação rica como o Brasil a perder duas décadas de desenvolvimento em virtude da covardia, ou conveniência, de seus governantes e parlamentares. E isso vale não apenas no nível federal. Sem uma reforma da estrutura do estado, na falta de uma mudança no pacto federativo, estados e municípios estão falindo.
A crise é grave, mas são nesses momentos que as pessoas que têm verdadeiro compromisso com o país podem se unir e promover uma grande virada.