“Estou sendo exonerado por ser honesto, defensor da causa indígena e não compactuar com o malfeito, como colocar no órgão, a pedido do líder do governo, André Moura, 20 pessoas que nunca viram índio em sua vida” – disse o presidente da FUNAI, Antonio Costa, ao ser demitido no último dia 5.
Costa, um dentista especializado em saúde indígena, não é nenhum sertanista radical: acha que os índios devem ser inseridos no sistema produtivo. Mas ver o sucateamento da FUNAI, que teve 347 cargos comissionados extintos, e o desprezo do Ministro ruralista da (in)Justiça pelos direitos dos 250 povos nativos, foi demais para ele.
Costa percebeu, a duras penas, que o governo ao qual pertencia virou as costas para a Terra Indígena, serviçal do agronegócio que é. “Terra não enche barriga de ninguém”, pontificou o Ministro (mencionado na “Carne Fraca”) que, junto com o da Casa Civil (o investigado Padilha), exonerou quem quis agir com decência. Para André Moura (PSC/CE), o apadrinhamento político “é normal na ocupação de espaços nos órgãos públicos”. É o fisiologismo no poder!
A desconjuntada junta governativa completa um ano. Ao invés de prosseguir no avassalador desmonte de estruturas do Estado vocacionadas a prestar serviço aos que mais precisam – como Ouvidorias Agrárias, órgãos de meio ambiente e FUNAI – devia procurar conhecer a diversidade da vida brasileira que tanto quer mercantilizar. Superando seu “negociocentrismo”, os ocupantes do poder poderiam ouvir Davi Kopenawa, que diz: “a terra é mais sólida que nossa vida! Todas as mercadorias dos brancos jamais serão suficientes em troca de nossas árvores, frutos, animais e peixes”.
Mas a mentalidade neocolonialista e escravocrata está em alta. Um deputado do PSDB apresentou Projeto de Lei que possibilita a troca do salário do trabalhador rural pelo recebimento de comida, como nos velhos barracões do Brasil do coronelismo oligárquico. Torna legal trabalhar ininterruptamente por 12 horas diárias e 18 dias contínuos de labuta, sem descanso nem dominical, em períodos de safra. E determina que os equipamentos de proteção sejam de responsabilidade do próprio lavrador. O risco é de que para comemorar a Lei Áurea no próximo dia 13 o governo temerário abra um debate sobre a sua extinção...
Nosso grande Carlos Drummond – outro que a ignorância oficial jamais lerá – alertou, em tom profético: “a civilização que sacrifica povos e culturas antiquíssimas é uma farsa amoral!”.
Enquanto isso, nos longes do nosso país índios, posseiros e quilombolas e são acossados e mortos. Os jagunços, capitães do mato do século XXI, ganharam licença para matar. Não por acaso, a CNBB lançou importante documento sobre “o grave momento nacional”, denunciando “uma economia que mata e nega a primazia do ser humano sobre o capital”. E clamando por “políticas públicas que atendam à população, especialmente a que se encontra em situação vulnerável”. Assim seja!