Dizem que Roberto Campos teria dito que o Brasil não corria o menor perigo de dar certo. Ele tinha razão. O Brasil não tem a menor chance de dar certo, pelo menos no curto prazo. Até lá, até chegar o grande dia, seremos sempre um país às portas de realizar sua vocação de sucesso, mas que vai deixar de fazer o que deve fazer para ser um país de sucesso.
Estaremos então fadados ao insucesso? Acho que, a longo prazo, não. Talvez o parâmetro do sucesso ainda mude e venha a ser mais fácil de ser atingido. O que é certo é que o sucesso não virá logo. Não temos nem hardware nem software para o caminho do sucesso. A par disso, temos a vocação para o efêmero, como na belíssima abertura das Olimpíadas do Rio. Mas o trabalho duro e repetitivo nos desanima. Talvez a vida seja boa demais para ser desperdiçada no trabalho duro. Para muitos, certamente sim.
O caminho do sucesso é obstruído também por outros fatores, entre eles quatro pragas que afligem o país: a corrupção, o corporativismo, a ineficiência e a omissão das elites. Vamos observar cada uma delas, começando pela corrupção.
A Operação Lava-Jato trata da questão da corrupção como nunca antes neste país. Não há dúvida de que seus efeitos já são absolutamente revolucionários e que a forma de fazer política jamais será a mesma. No entanto, seus alcances são limitados, devido, em especial, ao tamanho e à opacidade do Estado e a seu poder sobre a economia do país e, em decorrência, à ineficiência e à cultura da corrupção.
A opacidade e o gigantismo do Estado e da burocracia fazem o pesadelo de quem quer investir no país. A relação do cidadão com o Estado é complexa e subalterna. A burocracia nos oferece a ineficiência e esta promove a corrupção. E a corrupção existe não apenas para se buscar privilégios, mas também para se obter a eficiência que não está legitimamente disponível, por exemplo, na concessão de licenças ou alvarás.
O poder imperial do Estado sobre a economia, a opacidade e a ineficiência formam uma trinca imbatível na cultura de criar dificuldades para vender facilidades. Preventivamente, muitos financiavam políticos para tentar quebrar essa lógica.
O Estado no Brasil dá agora sinais débeis de que será mais eficiente. As corporações, contudo, estão de prontidão para não deixar isso ocorrer. Lutam pelo interesse corporativo em detrimento do bem comum. A política, que deveria estar lutando por esse bem comum, preocupa-se em se perpetuar. Ou seja, prevalecem os interesses das castas de políticos e de burocratas acima do interesse geral.
A própria Justiça que empreende a revolução da Lava-Jato é omissa em combater os privilégios que oferece a seus membros. Tampouco é transparente em mostrar a verdade das entranhas do seu funcionamento à cidadania.
Mas a lista de pragas não para por aqui. Outra delas é a brutal omissão do setor produtivo no debate das agendas nacionais. Enquanto as centrais sindicais vão às ruas contra as reformas modernizadoras das relações no trabalho, o grande empresariado assiste de longe ao desenrolar dos acontecimentos. Assim como foi omisso em organizar uma agenda de modernização do Estado.
Muitos empresários preferiram se organizar para defender seus interesses específicos, mas nunca usaram do seu poder de influência em favor de uma agenda de modernização do Brasil. Essa vergonhosa omissão impõe um grave custo a nosso futuro, já que as forças empreendedoras são propulsoras do avanço econômico e social de um país. Quando os empreendedores se voltam apenas para a própria agenda específica, perdem todos.
Sem empreendedores não há investimentos, nem empregos, nem salários, nem impostos. Regra básica ignorada no Brasil, onde muitos vivem – tal qual mariposas – voando em torno do holofote do Estado. Que não brilha para iluminar, e sim para queimar as asas dos que chegam perto.
Voltando ao ponto inicial, estamos fadados, no curto prazo, a ser um país do mais ou menos. Pode-se ter certeza disso quando a grande imprensa lança dúvidas sobre a necessidade de se reformar a arcaica legislação trabalhista. Logo a imprensa, que é coalhada de terceirizados e “pejotizados” e conhece o peso paralisante de um modelo que não propõe empregabilidade.
O país do mais ou menos será igualmente assegurado por juros siderais que não se justificam de maneira nenhuma. Sem crédito, uma nação não se desenvolve. É como a falta de adubo.