Não fosse uma imensa tragédia para o país, tudo o que envolve a delação dos irmãos Batista seria apenas uma fantástica ficção, entre o terror e a comédia.
Exceto Joesley, Wesley e seus advogados – um deles recém-saído da PGR, ex braço direito do procurador-geral Rodrigo Janot —, os demais envolvidos parecem um bando de amadores: de Michel Temer a Aécio Neves, do Ministério Público ao Supremo Tribunal, além da Polícia Federal.
Primeiro, os Batistas conseguem fechar o acordo mais dadivoso de que se tem notícia, por aqui e no mundo. Corrompem, compram a República, embolsam dinheiro dos impostos de quem trabalha em empréstimos generosíssimos do BNDES e da Caixa, patrocinados por Lula e Dilma, e se mandam livres, leves, riquíssimos para os Estados Unidos, com aval da PGR e do Supremo.
Joesley grava, por conta própria, conversa nada republicana com Michel Temer, tarde da noite, no Palácio do Jaburu, e, já orientado pela Polícia Federal, outras com Aécio Neves e seus comparsas. Malas e mochilas de dinheiro entregues a mando de Joesley aos supostos cupinchas do presidente e do senador receberam um chip da PF para rastreamento, e o dinheiro teve suas notas de série marcadas.
Embora ainda não se saiba por que as investigações sobre a JBS ficaram atreladas à Lava-Jato, a PF revelou o seu orgulho com as primeiras ações monitoradas para a produção de provas no âmbito da operação.
Mas não foi bem assim: os R$ 500 mil que chegaram às mãos do deputado Rocha Loures se perderam. A mochila não tinha chip e o dinheiro desapareceu do radar, exigindo esforços de busca.
A gravação que fez o governo Temer desabar é um capítulo à parte.
A Procuradoria-Geral da República incluiu o áudio na peça da denúncia sem uma perícia técnica prévia, embora tivesse à disposição a melhor equipe para tal. Com isso, patrocinou a celeuma em torno de edição, o que pode pôr todo o processo a perder.
Provocou ainda uma ridícula guerra de versões nas empresas jornalísticas, cada uma se dizendo dona da verdade, o que prova que ninguém sabe em que lugar a verdade está.
A Folha de S. Paulo contratou perito que garante que a gravação teve mais de 50 edições; O Estado de S. Paulo ouviu outro que afirma ter 14 trechos duvidosos. E O Globo garante, com escarcéu também no Fantástico e replique no site do jornal, que o áudio não foi adulterado.
O pedido oficial da defesa de Temer fez com o que o Supremo exigisse a perícia técnica do áudio. E aí, mais uma trapalhada: o país descobre que Joesley entregou a gravação, mas ficou com o gravador - na verdade, gravadores, conforme revelou a PF ao tentar recuperar o equipamento.
É estranhíssimo, para dizer o mínimo, que a PGR não tenha confiscado o aparelho usado para a gravação. Por que deixar prova do crime nas mãos do criminoso?
Embora sua defesa aposte nisso, o fato de a gravação ter sido editada não muda a gravidade do bate-papo de Temer com o empresário bandido.
Mas põe a PGR, que, por açodamento ou algum motivo ainda não explicado, cedeu mundos e fundos aos Batistas e preferiu correr o risco de usar um áudio sem conferência. Pior, deixar que os delatores levassem a arma do crime.
Expõe também o Supremo, que, por meio do ministro Edson Fachin, homologou a delação, autorizou os inquéritos e liberou os criminosos.
As notícias dão conta de que Joesley e sua mulher saíram de Nova York e estão em local não sabido. Ninguém dá conta de seu paradeiro. Bandido profissional, ele faz chacota deste país de amadores.