“O pau que bate em Chico deve bater também em Francisco”, proclama o ministro-relator, Herman Benjamin, escandindo calmamente cada palavra, com destreza de hábil esgrimistas verbal, apesar da rouquidão causada pela gripe inclemente que o ataca há dias, além de adversários explícitos ou mal disfarçado à sua volta, que o interrompem a cada instante para levá-lo à exaustão.
Ou fazê-lo fraquejar na apresentação de indícios, provas e argumentos na relatoria do processo, sem precedentes na história da justiça eleitoral brasileira, pedindo a cassação da chapa Dilma (PT)-Temer (PMDB), nas presidenciais de 2014.
O ex-vice, agora encastelado no poder, balança, mas faz das tripas coração para não desabar e recebe sinais de que as manob ras parecem dar resultados, a deduzir pela decisão da maioria dos julgadores (4 a 3) de retirar do processo as provas arrasadoras da delação da Odebrecht e dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura.
Sem gritos, sem chiliques, sem presepadas (para usar uma expressão típica do baianês), Benjamin protesta. E cita o ministro Gilmar Mendes, sentado ao seu lado, na presidência do julgamento transcendente. “Essa ação não poderia existir sem a inclusão da matriarca chefe dessa manada de elefantes predadores das savana, que é a Odebrecht”.
E relata com fatos, gráficos e depoimentos, longos anos ininterruptos de atuação corrupta e corruptora do mega-império do setor privado, em amplo e irrestrito conluio com governos, políticos, gente de altos e baixos escalões do poder público, como vai ficando cada dia mais flagrante para a sociedade brasileira, e para o mundo, nestes dias temerários de circulantes malas recheadas de propinas, ou a título de régias “aposentadorias” pa g as aos donos do poder, para quando a queda acontecer, se acontecer.
Metaforicamente refiro-me ao carro preto da Polícia Federal, acompanhado de reforçado comboio de segurança, que conduz o ex-deputado Rocha Loures, da sede da PF no Distrito Federal, para uma cela no complexo penitenciário da Papuda, a uns 30 quilômetros de distância do Palácio do Planalto, onde há pouco tempo “o homem da mala” trabalhava na secretaria particular do presidente Michel Temer, e por onde circulava com plena intimidade e total desenvoltura. Esse perigo evidente torna mais fácil entender o temor que paira dentro e fora do complexo palaciano (Planalto, Alvorada e Jaburu), apesar de todo otimismo que o mandatário tenta vender em seus mais recentes pronunciamentos. Ou nos sorrisos presidenciais que mais parecem rictus, nas imagens publicadas dentro e fora do Brasil.
Por falar em resistência, fios energizados e choques, o relator “não sucumbe”, apesar dos insidiosos apartes de alguns de seus pares, somados aos sucessivos ataques da gripe e seus derivados incômodos - tosse, coriza , rouquidão e mal estar. Herman Benjamin resiste, talvez inspirado no modelo de outro juiz exemplar, que surpreendentemente aparece sentado na primeira fileira de cadeiras, no auditório do julgamento, na sede do TSE: o ministro aposentado Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e ex-relator de processo histórico da justiça brasileira: o Mensalão. Que Barbosa levou à termo apesar dos dolorosos e lancinantes ataques da coluna.
Provavelmente, a presença de Joaquim Barbosa no tribunal, - que ele também presidiu, - depois de mais de três anos de sumiço, (sem sair da memória popular, como atesta seu notável desempenho de aprovação nas pesquisas de preferência, entre prováveis postulantes à presidência, em 2018) terá significado que vai muito além do natural interesse jurídico. Mas ainda está distante do parco entendimento deste jornalista. Quem quiser, arrisque o seu palpite. A conferir.
O relator termina a sua exposição e dá o seu voto pela cassação da chapa Dilma-Temer, antes mesmo da suspensão do julgamento na hora do almoço.
Antes de seu previsível desfecho, com o voto dos demais ministros, O Globo publica um curto e certeiro comentário: “Na sessão desta tarde, os demais ministros vão proferir seus votos. A expectativa é por um placar de 4x3 pela absolvição da chapa. Não à toa, o acertado pelo plenário é que cada ministro só fale por 20 minutos. Não há muito o que dizer depois do voto histórico de Herman Benjamin”.
Nada a acrescentar, qualquer que seja o resultado.