Ensimesmada no fisiologismo grotesco, assim virá a óbito a nauseante burocracia -pública e privada - brasileira, que firma, sustém - ainda -, estes velhíssimos modus, costumes, tão assombrosamente arraigados quanto ultrapassados.
Justamente porque, nos dias que correm, não é dado a nenhum brasileiro sustentar surpresa diante das torrenciais delações que oferecem, em praça pública, aos olhos do mundo, o maior espetáculo de corrupção protagonizado por agentes públicos e privados, jamais visto no planeta, é que também a irresignação – a revolta, mesmo - coletiva, frente a tantos entraves ao desenvolvimento social vai se insinuando, mais e mais vívida, em cada uma das vísceras da sociedade.
É dizer: ninguém engana mais ninguém nesta terra; então, com sua licença - ou sem sua licença -, eu vou cuidar da minha vida, dos meus interesses, e vê se não me atrapalha.
Sim, porque o establishment só se mantém, enquanto ele se faz respeitar; e, diante do quadro posto, da mais cafona e vexatória guerra de facções políticas enlameadas até os tímpanos, muito pouco – ou nada – há de legítimo a que se atrelar, que não, unicamente, o temor de um descalabro maior.
E é exatamente isto, o senso comum, a sabedoria popular, que ora contém a faxina de inopino; que ainda mantém este estatus quo, vetusto e moribundo: porque se quer manter a ordem constitucional, que, boa ou ruim, é a que se tem; ou mais no comezinho: ninguém aqui quer saber de sobressaltos - ou mais sobressaltos.
O empresário, o frentista, a professora, a médica, o pedreiro, a faxineira, o engenheiro, todos - todos -, sabemos muito bem que chegamos ao final de uma era, vivemos em um modelo político esgotado e do qual teremos a oportunidade – aguardadíssima – de nos livrar em breve.
E o faremos.
E bem. Por conta própria.
Ainda que se possa levantar todas as conhecidíssimas dificuldades desse país: das falhas imperdoáveis na educação, às imperdoáveis falhas de caráter de surpreendente parcela da população - agora de tudo sabemos -, ainda, assim, os brasileiros de bem, somos a esmagadora maioria.
E a esmagadora maioria deste país, quer ordem e progresso nas suas vidas, nos seus negócios. Temos aqui e agora, uma ampla classe de trabalhadores que presentemente sabe que precisa mostrar serviço para sobreviver.
A sociedade – e é a mundial, inclusive -, presentemente, não está nem aí pra liturgias de esquerda ou de direita – que hoje, representam quimeras, varridas para o lixo da história.
Aqui, como em qualquer outra parte do mundo, está-se ansioso por produzir, criar, cambiar, enricar, apreender o novo – o que o mundo produz de novo, e participar do mundo que se renova a cada instante, a cada novo click em cada nova plataforma.
Daí é que senão agora, mas muito breve, a exigência de uma terceira ou quarta via, seja lá do que for, provocará fúria e ranger de dentes.
Amadurecemos.
E, ainda que por falta de opção, e sem os meios necessários, falhemos na execução de uma virtuosa faxina, faremos outra, e outra. E outra.
Toda pessoa sabe que por mais que se empenhe na limpeza, sempre sobra sujeira em algum canto: é da natureza humana, um certo descuido, um certo relapso, uma certa preguiça - e é assim mesmo que caminha a humanidade, com suas falhas intrínsecas.
O inegável, é que hoje, todos sabemos o que verdadeiramente representa a nossa posição de eleitores na estrutura social: nós somos os empregadores a procura de trabalhadores que mostrem serviço, e que se não derem conta vão ser postos no olho da rua.