É prematuro imaginar uma redenção brasileira.
Décadas de descaso, de todos e cada qual, com esta República, resultaram nesse teatro do absurdo a que assistimos em tempo real.
Chegamos onde achamo-nos agora, por obra e graça – e desgraça -, de cada um de nós.
E, principalmente, dos que optaram pela comodidade dos respectivos cabrestos.
Não há, presentemente, um único inocente no passamento desta República.
Não há nenhum santo nesta terra. E nem haverá.
De omissão em omissão, colhemos agora a safra de canalhas que nos enoja.
Uma espantosa supersafra. Que expomos aos olhos do mundo.
Com a celebração da colheita, inclusive.
Este assombroso caldo de cultura de corrupção que testemunhamos não se desenha, assim, da noite para o dia.
Esta supersafra, que viceja nesta agora terra arrasada, forjou-se em décadas de improvisação. Na ânsia atávica pelo caminho fácil; pela lei do menor esforço. Porque o certo, nestas paragens do fim do mundo, passou a ser levar vantagem.
Sem ideologia; sem mérito. Sem trabalho.
Somos todos culpados, eu e você.
Por este gigante em derrocada slow motion que enoja.
Ajoelhado ante as portas escancaradas do inferno.
E a depuração não virá sem que se chegue e se exponha as profundezas dos domínios do Satã brasileiro. Aos olhos do mundo.
Apenas a exaustão nos redimirá.
Sabemos disso porque não há mais como fingir nesta reconhecida terra do faz de conta, pelo excelente motivo de que não há mais para quem fingir.
Neste condomínio de quinta, em que viemos parar, presentemente, tudo se sabe.
E o que não se sabe - ainda -, se intui.
Vergonha na cara não é uma coisa que presentemente dê em árvores nestas paragens.
Diversamente do que acontece com a produção em larga escala de facínoras, o verdadeiro apelo à hombridade sempre encontrou obstáculos nesta terra, travestidos dos mais variados modos: soberba, miséria, ignorância, elitismo, desamparo; ou tudo isto somado. Ou subtraído.
Mas um homem sempre é maior que o meio. É da natureza, deveras, que o hiato – a pinguela -, entre o certo e o errado reside precisamente na vontade de cada qual.
E é exatamente por esta razão, como já vimos de testemunhar, que ainda assistiremos a crápulas compadres confraternizando alegremente sobre o féretro da República.
Beberão a morta até o último instante.
Agarrados a uma vida - a um mundo -, que já não existe mais.
Agarrados ao espectro do que um dia foi uma triste e nauseante história de pessoas muito, muito baixas, reunidas em prol de seus respectivos umbigos terceiro-mundistas.
O exclusivíssimo clube das velhas raposas felpudas, seus asseclas, e seus compadres da iniciativa privada, igualmente bitolados.
Ridículas raposas velhas. Muito velhas. Serão tragadas pelo próprio sumidouro que criaram.
Desembocarão na lata de lixo do tempo. Junto ao espantoso universo paralelo que criaram.
E, contudo, os usos e costumes da cleptocracia que se instaurou no Brasil permanecerão ao longo e além do colapso político, aviltando a moral pública por muito tempo ainda.
Vivos ou mortos, os cadáveres de cleptocratas internacionalmente reconhecidos pairam, ainda, no etéreo do dia a dia de seus miseráveis países – e aqui não será diferente.
É longo o caminho da salvação.