A bolsa ficou eufórica, o PIB comemorou, o pessoal dos Jardins soltou fogos e até o atormentado Michel Temer, que acabava de ser defendido na CCJ por Paulo Maluf, respirou aliviado ao ver o canhão da mídia se voltar para outro lado. A primeira condenação do ex-presidente Lula pelo juiz Sérgio Moro não foi surpresa nenhuma, mas é um daqueles fatos políticos capazes de virar o cenário – ao menos assim está sendo tratada pelos que temem a sua volta em 2018. A única certeza dada pelas primeiras reações é aquela: nunca antes neste pais um sujeito meteu tanto medo no establishment e no mundo político.
Na prática, nada muda de imediato, já que Moro condenou Lula a nove anos e meio de reclusão mas não decretou sua prisão por “cautela”. O ex-presidente, embora interditado para funções públicas, também não ficou inelegível, ao menos ainda, o que só ocorre na condenação pela segunda instância, o TRF-4. Vai ser preciso esperar para ver se alguma dessas possibilidades se concretiza.
Por agora, vale organizar as ideias em torno de indagações e desdobramentos que se colocam:
1. Lula pode ficar fora da eleição de 2018? Pode, mas não é uma certeza. Vai depender das circunstâncias no TRF-4, de Porto Alegre, aquele tribunal que antes fechava com Moro em tudo mas que, ultimamente, tem tido lá suas divergências com o juiz. A velocidade do julgamento é a variável principal. Estudos mostram que, em média, o TRF-4 leva dez meses, um ano, às vezes até ano e meio para julgar recursos desse tipo. O que joga a decisão para meados do ano que vem – quando possivelmente Lula, hoje à frente nas pesquisas presidenciais, estará em plena campanha eleitoral. Se valer a mesma cautela de Moro ao não provocar um trauma com a prisão do ex-presidente, dificilmente o tribunal condenará e tornará inelegível um candidato forte em meio ao calor da disputa. Esse é o raciocínio de políticos dentro e fora do PT, amparado também por certa dose de wishfull thinking. Dentro do próprio PT, contudo, há quem discuta um Plano B, que pode atender pelo nome de Fernando Haddad ou Jaques Wagner, ou até mesmo pela decisão de apoiar um candidato de outro partido do mesmo campo político, como Ciro Gomes (PDT).
2. A tática é a “vitimização”, e a sentença politizada de Moro pode ajudar nisso. Já nas primeiras reações, o petistas mostraram sua estratégia, falando em falta de provas, ameaça aos direitos, etc. O discurso já vinha sendo ensaiado pelos advogados desde que as coisas começaram a se complicar para Lula. Moro caiu na armadilha. Sua sentença está recheada de observações que extrapolam a linguagem jurídica e a estrita decretação de uma sentença técnica. O juiz disse que, pessoalmente, não tem qualquer satisfação em condenar Lula. Precisava dizer? Nenhum juiz deve gostar de condenar ninguém, mas o faz por dever de ofício e respeito à lei. Moro relatou também minuciosamente as tentativas da defesa do ex-presidente de impedi-lo e desqualificá-lo como julgador – todas rechaçadas pelas instâncias superiores. Passou impressão de queixa, desnecessariamente porque, como juiz, exerceu sua função e pronto. Com tantas explicações, Moro botou azeitona na empada da politização petista. Vai continuar no alvo, até porque tem nas mãos outro processo contra o ex-presidente.
3. A incógnita decisiva: a turma vai sair do sofá? Isso é o que pode mudar tudo – para Lula, Temer e quem mais chegar. A apatia das ruas vem salvando o peemedebista até agora e dificulta o caminho da oposição rumo aos 342 votos suficientes para afastá-lo. No caso de Lula, a salvação pode estar nas ruas, ou seja, na capacidade de mobilização dos movimentos sociais e populares que o apóiam e estão sendo convocados pelo PT a se manifestar. Gregos e troianos vão estar de olho em sua capacidade de fazer barulho nos próximos dias. O clima vai esquentar entre ex-coxinhas e ex-mortadelas, e a radicalização política pode chegar a níveis inéditos.