Governar uma República não é para qualquer um. É para os fortes.
Uma República de Bananas, então, exige perícia redobrada, ou quadruplicada, ou sextuplicada, ou, enfim, o sujeito tem que ser expert.
É preciso acompanhar os movimentos dos inimigos, e, muito mais detidamente, e com muito maior atenção, os movimentos dos amigos.
Em política, como em qualquer outra área das relações humanas, as juras de lealdade vão só até a página cinco - no máximo. Você sabe como é, as circunstâncias mudam; mudam as pessoas.
E a coisa se complica imensamente em política bananeira, em que a lealdade vai até a página dois, e ... uia!!:
- Ele estava na minha base aliada até hoje de manhã. Convidei-o para aquele cargo. Disse-lhe que o faria ...
- Mudou faz quinze minutos. Dar-lhe-ão aquele outro cargo ... sabe, aquele ...
- Mas, mas, ...
E é assim, diante da implacável fluidez das circunstâncias, do tempo, dos desígnios, dos quereres e das delações, que o governante se desidrata.
Diminui-se, encolhe-se, e, quando vê, passou de grande e circunspecto estadista, a um zé mané - digno de dó. As manchetes dos jornais e revistas, a tv, o rádio, as redes sociais, o povo no WhatsApp, acompanham sua agonia, minuto a minuto, destrinchando-a, esmiuçando-a e rindo. Muito.
E é quando aparecem os assanhados.
Políticos outros, dados já como mortos, ressuscitam do nada e aprumam-se para a volta ao combate. Enchem o cabelo - ou o que resta dele -, de gel, e começam a aparecer nos centros do poder:
- Ora, quem diria, eu jurava que ele ia se aposentar e voltar para o sítio ...
- Vai nada. Ele está é de olho na Fazenda.
Esses, os assanhados experientes.
Mas há, também, os novatos. Novato assanhado é um problema.
Digo, um problema geopolítico.
O novato assanhado fica entre a igreja e o prostíbulo. Sabe que tem que ter um pé em cada canoa, mas não tem a destreza do assanhado experiente, e pode passar, rapidinho - em questão de horas, na verdade -, da condição de solução conciliadora, ao zé mané.
Diante, então, da desolação e perda de referências, dos desidratados, o governante primaz - normalmente, em verdade, ele já é o secundaz -, e dos assanhados de plantão, surgem os exibidos.
O exibido, é, por excelência, o sujeito que já esteve no poder bananeiro e milagrosamente mantém, até onde se sabe, a ficha limpa.
Estupefato, como todos os demais, com a impossibilidade de uma abordagem racional para os problemas bananeiros, passa a verter soluções estapafúrdias, como o atropelo, de inopino, da Constituição; ou, mais estapafúrdia, ainda, apela para a dignidade do dignitário da vez, pego com as calças na mão:
- Mas se o dignitário tivesse dignidade - ou o mínimo de esperteza -, não teria sido pego, com as calças baixadas!
- Pois é!
Personalidades atadas a situações sem solução, caminham trôpegos, desidratados, assanhados e exibidos, para o mesmo buraco da história.
O futuro sempre chega e atropela todos que se achem dependurados:
- Segue o féretro!
- Next!
Do chão não passa. O mercado já precificou o caos bananeiro - que é o que interessa.