Temos um novo ministro da cultura, que é do ramo. Isso ninguém discute.
Fica a pergunta por que somente agora foi nomeado e sem ter votos no congresso, condição importante nesse atual (des) governo. Estranho.
O ministro da saúde não é do ramo. Isso nem ele discute. Afirma que é um gestor, comprando ambulâncias para “rebocoterapia”, alegria de prefeitos, botando ponto eletrônico, para estancar o “fingimento médico”, e aparelhos de radioterapia (cem aparelhos) para um sistema sem gente.
Mas tem muitos votos no congresso, e aí não há qualquer discussão.
O ministro da defesa também não é do ramo, fala muito, mas tem um olhar de preocupado.
E daí?
Ao se levar em conta que historicamente os fatos se repetem, em ciclos com nomes, lugares, contextos diferentes, porém com dinâmica semelhante, é possível que o passado resgate a verdade e ajude a entender o presente.
“Os porões da contravenção. Jogo do bicho e a ditadura militar: a história que profissionalizou o crime organizado”, de Chico Otavio e Aloy Jupiara, é um trabalho de arqueologia jornalística. Muito bem documentado, comprova os perigos de qualquer ditadura. Traça as conecções entre a ditadura militar (1964-1985) e o jogo do bicho, passando pelas escolas de samba.
Carlos Andreazza, editor do livro, alertou na contracapa: “Este livro deverá - deveria - incomodar alguns jornalistas, aqueles que, finda a ditadura militar, enquanto esbravejavam contra a injustiça social e a opressão da elite, assumiram para si, em troca (na melhor das hipóteses) de camarotes com uisquinhos liberados no ambiente pouco republicano das escolas de samba, a proteção e mesmo exaltação, como inofensivos homens de bem e do povo, de bandidos cruéis e assassinos.”
Hoje vivemos um estado democrático, só que em luta constante contra marginais, no sentido literal e figurado.
O Rio de Janeiro vive em guerra, sem fabricar fuzis, plantar maconha ou produzir cocaína, que são os principais fatores pelos atuais 11 tiroteios por dia; duplicou o número de baleados de 2015 a 2016, e já há números piores até julho de 2017.
O caos social e na segurança pública é em grande parte ocasionado pela corrupção no governo. Inúmeras escolas públicas são fechadas devido aos tiroteios; inocentes e crianças são mortos, assim como quase uma centena de policiais só neste ano.
E aí?
O presidente sugeriu que o novo ministro da cultura libere dinheiro federal para as escolas de samba - sim, escolas de samba, que pouco mudaram nos últimos 32 anos. Dir-lhe-ia que é porque o prefeito da cidade não gosta de samba ou é doente do pé? Não?
O ministro da saúde economiza comprando remédio chinês, e seu colega, na defesa (sem duplo sentido, caro leitor), continua com olhar preocupado.
O momento é de investimento para estancar o sangue das vítimas, o suor dos profissionais de saúde e as lágrimas de todos. Chega de cinzas, para podermos voltar a sambar.