Dia desses, sem querer, peguei um caminho pouco usual em Brasília. Para chegar a um bairro chamado Sudoeste, atravessei de ponta a ponta a Vila Militar, onde se concentram tropas das forças armadas. Quando passei em frente ao Quartel General do Exército, a memória não me traiu. Um implacável frio na espinha, uma sensação desagradável de medo.
Nos anos de chumbo, quando trabalhávamos - e vivíamos - sob o medo da repressão, da linha dura dos militares, aquelas vias eram interditadas aos civis. Havia guaritas e cercas. Jornalistas por ali... presos, apenas.
Hoje, são grandes avenidas, abertas aos cidadãos. As vias floridas remetem nossos anseios e medos à ainda frágil democracia brasileira. Inevitável lembrar que apologistas do atraso conquistam preferência de parte considerável do eleitorado.
Mas não passarão. Ainda que tenhamos muita luta pela frente. Ontem, ao ouvir o relatório do deputado Sergio Sveiter, autorizando a continuidade de denúncia contra Michel Temer, vimos alguma seriedade na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
Não se repetiu o comportamento debochado do então presidente da casa, o ex-deputado preso Eduardo Cunha, que, no impeachment de Dilma, fez, da mesma comissão, gato e sapato.
Vamos aguardar. Novo seriado está apenas começando. A impressionante história recente do Brasil revela enredo nunca imaginado. Minúcias, detalhes, degradações, traições, alianças espúrias. De tudo, um pouco.
História rica em pormenores. Na pior das hipóteses, contamos com deputados e senadores - até com aqueles que tanto nos envergonham. No falatório da comissão de Constituição e Justiça, todos enalteceram a democracia. Pode ser o lado bom do parlamento. Que sejam fieis a sua pregação. Já terão feito muito. Greta Garbo, dessa vez, não vai parar no Irajá...