No meu tempo de jovem, ir ao cinema era uma coisa normal. Primeiro pagávamos o ingresso e depois assistíamos ao filme. Se não gostávamos do tal filme, só nos restava sair da sala de cinema e ir embora, sem direito a receber de volta o valor do ingresso, pois, para que ninguém reclamasse, havia no saguão das salas uma espécie de mural com fotos de algumas cenas do filme. A vida, para alguns, não é muito diferente disso, apenas não permite a retirada, tem de continuar assistindo. Para aqueles que, felizmente, vivem bastante, sobra, muitas vezes, ver um filme que não está gostando e, pior, sem forças para reagir às lamentáveis cenas. Já, já explico porque iniciei o artigo com este comentário.
Antes, vou deixar anotado que os amigos só ficaram sabendo do falecimento do Vitorio Okimoto bem depois. Uma pessoa afável e exemplar na conduta. Viveu épocas gostosas de nossa Votuporanga e fez parte de uma turminha bem animada, dentre eles alguns que me lembro: Carlão Haddad, Zé do Cinema, Nilson Gorayeb, Jaime Gil, Galoro, Edmar Marão. Esses caras fizeram parte do incentivo ao nosso carnaval, aprontaram, no melhor sentido da palavra, e animaram a cidade. Vitorio fazia parte de uma família que veio para Votuporanga no início dos anos quarenta, dentre eles Jubei, Ussaburo e João. Fizeram parte do esforço pelo desenvolvimento da cidade, uma boa família.
Também por esses dias houve a tragédia do filho do Jorge Seba. Nos deixou muito cedo e tenho comigo que tragédia não é para se ficar comentando. Que os Céus abriguem da melhor forma tanto o Vitório, como o menino do Jorge.
Mas, voltando ao assunto do parágrafo inicial, o que estamos vivendo no Brasil é um filme de muito mau gosto. Até parece que os “vestais” querem nos impingir sofrimentos em câmera lenta, um pouquinho por semana. Os pilotos de escrivaninha, sem coragem para atitudes de ser humano responsável, ficam inventando saídas para a porcaria que ajudaram construir. Alguns deputados e senadores ficam apenas preocupados com suas reeleições e não votam com a consciência e sim com o bolso. Com isso o filme que todos estamos fadados a ver vai ficando cada vez pior e maldoso e, como já escrevi, em câmera lenta, para judiar mesmo. E não adianta querer sair, não tem para onde ir e, pior, se sair é capaz que cobrem o ingresso outra vez ou inventem algum imposto de última hora. Não é pessimismo não, é realidade e, penso com meus botões, isso não vai terminar bem.
A tal de Reforma Política, tão necessária, poderá ser votada de última hora e, sem dúvida, vai procurar amainar o caminho de alguns “vestais”, salvar alguns “safados”.
Os políticos brasileiros precisam entender, se tiverem humanidade e humildade para isso, que saco que só tira, e ninguém coloca nada dentro, um dia fica vazio. Como provocar desenvolvimento e fazer a economia andar se não existem recursos, pois foram todos gastos, esbanjados mesmo, e a dívida pública é enorme. Alguém precisa falar a verdade ao povo, por mais que isso doa. Alguém precisa ter coragem de apoiar a atitude dos “mocinhos” para o final do filme atual, mesmo que muitas cabeças rolem, e começar um novo filme cheio de verdades e esperanças. A verdade liberta. O Brasil tem espaço e riquezas para dar ótimas oportunidades às suas crianças e jovens. Que alguém, ou alguns, tenham coragem e façam a diferença. E que ninguém se esqueça da frase do Lincoln: “ninguém engana a todos por todo o tempo”. As delações premiadas estão provando isto.