Agosto é um mês horrendo.
É tudo muito triste, impreciso, enigmático, e cheio de pó em agosto.
Nunca me senti bem em agosto: é um não saber exatamente o que se passa. Você não se sente inteiro em agosto: falta alguma coisa e sobra pó. Um horror. Um horror.
Alguma coisa acontece em agosto.
A Primeira Guerra Mundial começou no dia 1º de agosto de 1914; as cidades de Hiroshima e Nagasaki foram atacadas pelos norte-americanos com bombas atômicas nos dias 6 e 9 de agosto de 1945; em 2 de agosto de 1934 Adolf Hitler se tornou o führer (Líder ou Chefe de Estado) da Alemanha; Getúlio Vargas se suicidou em 24 de agosto de 1954; o Muro de Berlim, que dividiu a Alemanha em duas partes, começou a ser construído em 13 de agosto de 1961; Juscelino Kubitscheck morreu em um acidente de carro no dia 22 de agosto de 1976.
Definitivamente, coisas ruins acontecem em agosto.
Aqui nos trópicos é um mormaço madorrento, uma secura de lascar. E seca é aborrecimento, enfado, amolação, aridez, estio, estiagem.
Onde não tem água, nada flui.
O que o vento seco traz é estagnação, e com ela, a cessação da vida - em todos os seus imperceptíveis espectros -, porque vida é movimento, é fluidez.
As pessoas em agosto estão cansadas. Dão um basta e vão para o tudo ou nada.
É o que acontece. Uma travessia, afinal, uma árida travessia, até a chegada das águas.
E agosto é tempo de escarola.
Sempre detestei escarola. Nunca, jamais, em tempo algum, me aproximei de um pé de escarola.
Lembro-me muito bem, quando criança, do cheiro da escarola frita: eu detestava. Frita, e em agosto!!
A pessoa carrega traumas, e daí, mitos e superstições. É o que acontece.
O fato é que hoje deparei-me com uma torta de escarola frita, queijo e bacon, e que encontro feliz – dos mais felizes. A minha outra eu, a que me policia, não estava, e, então, pude ser feliz: eu e a torta.
Escarola é uma delícia. E a esta altura, você sabe que tudo o que é verdura vai te fazer bem; e se joga na escarola.
É o que acontece. Quando se sai do previsto, do estabelecido, do cultuado, do definido, muda-se a perspectiva, muda-se a vida: a vida flui: mesmo sem água.
É na seca, que você procura alternativas.
Se ficar olhando a estiagem, vai se sentir mal. A vida inteira.
E, como lá fora, não há de encontrar arrimo, o negócio é olhar pra dentro de si mesmo.
Onde moram todas as soluções.
Todos os sonhos os desejos e os meios de os conseguir realizar.
É quando você percebe que agosto é um mês como outro qualquer, pode ter lá suas fatalidades, as pessoas estão cansadas mesmo, e o segredo da vida é seguir em frente, haja o que houver.
Este pó todo é um horror. Mas vai passar, como tudo o mais.
E as surpresas da vida, ora veja você! Estão exatamente onde sempre estiveram, os lugares, as pessoas, as verduras das quais você nunca se aproximou!
É o que acontece. É preciso ir muito longe pra se conseguir chegar mais perto.