Que medo do que vem por aí. A reforma política em vias de aprovação pelo Congresso Nacional é uma ofensa à democracia. E o fundo eleitoral proposto de R$ 3,6 bilhões, um insulto a milhões de brasileiros desempregados, famintos, miseráveis.
O dinheiro, que falta para a saúde e educação, para não citar segurança, contas públicas, etc, servirá para eleger mais políticos descomprometidos com o Brasil. E tem mais: vem aí o “distritão”, monstrengo em construção por deputados e senadores para garantir a eleição dos mesmos, aqueles que já conhecemos pela (má) fama.
Como confiar numa proposta de um parlamento tão desmoralizado? Criativo também. Em benefício próprio, claro. O presidente da Câmara fala em distritão de transição. Ou distritão ligth. Nem assim, sem gordura e adição de açúcar, dá para engolir o projeto. Rodrigo Maia fala ainda de um “fundo de transição”.
Dá medo. Se está ruim, pode piorar.
Há quem considere pouco esse montante desviado para eleições. O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, disse nessa segunda-feira, em São Paulo, que é insuficiente. Se a desfaçatez da maioria do Congresso é um soco no estomago, a onipotência do ministro Gilmar Mendes é assustadora.
Gilmar critica decisões do Supremo Tribunal Federal, do qual faz parte. Diz que foi um erro vetar o financiamento privado das campanhas. “Vamos querer que o narcotráfico e a milícia financiem as campanhas?”, provoca, sempre ele, Gilmar Mendes.
Gilmar, aliás, pode tudo. Faz e desfaz. E consegue uma proeza de poucos: une esquerda, direita, centro. Impressiona a unanimidade das críticas feitas a Gilmar nas redes sociais.
Todos na linha do ministro que não dá satisfação a ninguém, livra da cadeia quem quer, ainda que os sujeitos em questão sejam pública e indiscutivelmente culpados de algum ato ilítico. Gilmar Mendes não se incomoda. E solta o verbo.
Sem cerimonia, Mendes chamou o Juiz Marcelo Bretas, do Rio, de rabo de cachorro. E não explicou quem é o cachorro na prosaica frase que declamou para a imprensa, ao justificar, semana passada, mais um habeas corpus concedido à quadrilha do transporte público instalada há décadas no Rio de Janeiro.
Os brasileiros assistem a tudo perplexos, atônitos. Paralisados. Reforma política de oportunidade e resultados, e propostas indecorosas, entremeadas com encontros furtivos, extra agenda, no Jaburu, onde mora o presidente da república. Temer se reúne com estranha frequência com figuras esquisitas e políticos denunciados – Aécio Neves, por exemplo. Metade do seu ministério, aliás, deve contas à justiça.
No sábado, acompanhado de Rodrigo Maia, foi a vez de Gilmar Mendes encontrar-se com Temer, extra agenda. Do que falaram? Não se sabe. O que se sabe é que Mendes estava onde não caberia um ministro do Supremo e presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
E ninguém tem coragem de amarrar o guizo no gato. Dá medo até de pensar. Gilmar é bom de briga. Chamou procuradores de “trêfegos e barulhentos”, desqualificou o Procurador -Geral da república, Rodrigo Janot, chamando-o de despreparado, defendeu abertamente a permanência de Temer no governo, quando o assunto estava sob a regência da Câmara.
Gilmar ainda é o relator de um dos processos contra Aécio Neves, com quem tem boas relações. Tão poderoso, que entre seus pares, do Supremo Tribunal Federal, Gilmar não provoca sequer reações. Ao contrário dos espalhafatosos, diretos e duros comentários contra ele nas redes sociais, do STF ouve-se apenas um silêncio constrangedor.