Era uma vez numa floresta muito, muito, muito - mas muito mesmo -, distante da realidade, vivia uma tribo perdida no tempo e no espaço. Los Hermosos y perdidos eram um povo muito bonito e muito, muito cordato; tanto que, de tão cordato, acabou sendo dominado pela tribo conhecida como Los mostachos ridículos.
Os Los mostachos viviam primitivamente: comunicavam-se com um vocabulário tosco, acreditavam em divindades pagãs e eram incrivelmente cafonas. Mas haviam se tornado muito ricos com o tráfico internacional de cerejas.
Tomaram o poder na ilha - eu disse ilha? Que seja; tomaram o poder na ilha e nacionalizaram toda a indústria da farinha de mandioca - as maiores reservas mundiais de farinha de mandioca; e ficaram mais ricos ainda, porque passaram a destinar os recursos obtidos com a farinha para o tráfico das cerejas, e, com os recursos das cerejas adquiriram terras, gado, ouro, sal, mais cerejas e mais mandiocas. E armas.
Todavia, os Hermanos y perdidos ficaram à margem de toda essa riqueza: foram espoliados e não tinham saneamento básico, o que comer, ou o que vestir – o que vestir não chegava realmente a ser um problema, porque eles eram Hermosos e ali fazia muito calor, mas a falta de comida e de saneamento básico - naquele calor! -, um belo dia, falou mais alto, e os Hermosos se revoltaram.
Foram para as ruas da aldeia com cartazes e palavras de ordem!
Los mostachos, que mal tinham um vocabulário, não entenderam nada, mas não gostaram do barulho, e o resultado foi centenas de mortes entre os Hermosos; que voltaram correndo e assustados para suas casas - até os próximos roncos dos estômagos, quando foram para as ruas novamente, e... Bem, ficaram indo e vindo, nessa vida caótica de terceiro-mundo, até que um arqueólogo inglês, o Doutor Lovingstea, os descobriu na mata: ele e sua equipe de estudos observaram atentamente, durante meses, toda a dinâmica entre os Hermosos e os Los mostachos ridículos e não conseguiam entender como aquelas tribos tinham resistido há tantos séculos longe da civilização!
Não era possível!
E não era mesmo. Constataram, depois, que Los mostachos mantinham contatos com tribos do Leste; tribos mais ao Norte, e ao Sul, também; pensavam como criaturas jurássicas, é bem verdade, mas dominavam, há muito, a roda, o fogo, e os sinais de fumaça: não podiam ver um sinal de fumaça, que prendiam e assassinavam todos à sua volta – eram muito prevenidos.
O Doutor Lovingstea, então, revelou ao mundo sua descoberta e o mundo voltou-se para La Tierra Perdida, como ficou conhecida a floresta – eu disse floresta? Que seja.
Resolveram auxiliar Los Hermosos, claro, quando, então, se descobriu que não seria fácil: havia interesses, muitos, e insuspeitados, do Leste naquele lugar... Mas, com o tempo, e sendo absolutamente ridículos aqueles bigodes decrépitos dos Los mostachos, a opinião pública tomou-se de ódio por aquela cafonice toda e resolveu pôr um ponto final em sua sanha psicopata por cerejas. E farinha.
Los mostachos foram expostos: seus bigodes ridicularizados como a estampa do atraso que são. A breguice elastecida ao máximo. O ponto mais baixo, da mais baixa subcultura produzida nos últimos séculos.
E foram quase aniquilados quando lhes deram espelhos. Muitos suicidaram-se ao se enxergarem. Outros, entenderam o óbvio e se adaptaram, dando adeus aos bigodes abomináveis.
No entanto, alguns Los mostachos resistem entrincheirados: perderam recursos com os embargos econômicos impostos; perderam poder político com a queda nas exportações, mas ainda resistem!
São uma meia dúzia de ridículos que usam amarelo-ouro em plena luz do dia. E da tarde; e da noite.
E outro dia mesmo organizaram uma conferência internacional e desfilaram seus bigodes ridículos com orgulho. Para os ingleses verem.
Tem gente que realmente não percebe quando a festa acabou.