*Nasser Gorayb
Pois é, o artigo deve sair na sexta, dia 4, e o aniversário de Votuporanga vai ser dia 8, vamos falar um pouquinho disto.
Com mais vinte anos a cidade completa o centenário e muitos de nós estamos aqui ainda por ocasião desses oitenta anos. Uma bela cidade, para quem começou modesta e no meio do mato. Quem diria que a pequena vila se transformaria nessa linda urbe que é hoje.
O pessoal da TV TEM, por intermédio de seu relações públicas local, o Rafael, me procurou e convidou para dar uns “pitacos” sobre a cidade. Pensei bastante e fui enfrentar a situação. Fui recebido pelo simpático Marcelo Mamone e pela Izabela. Em seguida, vieram o entrevistador Patrick e o cinegrafista Francisco (palmeirense). Já me senti à vontade e fui preparado para ser filmado. Não havia maquiadora, porém o palmeirense Francisco ficou encarregado de “acertar meu prumo”.
Sei lá, penso que saí bem. Se alguém não gostar, basta desligar o botão da TV. Parece que a reportagem sai no dia 8, tipo meio-dia. Acredito que estão preparando uma boa matéria em homenagem a Votuporanga e, possivelmente, outras pessoas mais credenciadas que eu devem dar suas opiniões.
Nesses oitenta anos da cidade, onde vivo por setenta e dois, desde 1945, sempre angariei amigos e tenho sido bastante respeitado. Já escrevi por aqui que o meu tempo de vida e de muitos amigos meus, também, quase se confundem com o tempo da cidade. A cidade se desenvolveu e abriu oportunidades para muitos. Muitas pessoas passaram por aqui em outras épocas e por motivos familiares e profissionais se mudaram para outras urbes, porém percebemos claramente que boa parte deles não se esquecem dos bons tempos vividos aqui.
O transporte para outras localidades no início era feito por jardineiras ou por trem. Jardineiras são aqueles “ônibus” com bagageiro no teto, onde iam mais pessoas que malas, e não havia asfalto, o negócio era na terra e poeira mesmo. O trem era puxado pela Maria Fumaça, por isso mesmo muitos que viajavam regularmente tinham buracos nas camisas, causados pelas fagulhas que saiam da locomotiva. Os tempos eram outros, o sertão estava sendo desbravado. Votuporanga, parece-me, teve uma vantagem: por aqui não haviam latifúndios, a zona rural era constituída por centenas de propriedades e o pessoal que trabalhava ali (na zona rural) vinha para a cidade gastar seus troquinhos alimentando nosso comercio. Não me recordo que a cidade tenha tido algum aventureiro descompromissado com seu desenvolvimento, os que vieram se fixaram e provocaram o desenvolvimento, desde os mais simples aos mais abastados.
Sempre existiram grupos de pessoas procurando desenvolver algum tipo de atividade que incrementasse nosso comercio e indústria. Algumas atitudes foram bem sucedidas, outras não deram certo, porém a cidade soube aproveitar a solidariedade existente e em muitos lugares o esforço comunitário foi dotado de sucesso e, por isso, também temos a Santa Casa como exemplo nacional, temos uma lindíssima Igreja Matriz e uma Fundação Educacional respeitada. Existem muitos outros exemplos, não me atrevo ficar anotando porque se esquecer algum, eu mesmo me penalizo. Apenas deixo meus agradecimentos a todos que se esforçaram, mesmo os anônimos, para que a cidade pudesse ser como é.
Fizeram-me uma pergunta na TV e antecipo aqui a resposta que dei: espero que para os próximos oitenta anos a cidade privilegie a qualidade de vida de sua população, a quantidade não é tão importante assim. Que Votuporanga continue sendo uma cidade de qualidade, que seja, sem dúvida, através dos tempos, sinônimo de qualidade. Se assim for valeu a pena morar aqui por décadas.