A casa caiu. No curso de apenas uma semana - do dia 4 ao dia 8 -, numa sequência vertiginosa, foram expostas as quadrilhas do PT, do PMDB e as entranhas do Estado brasileiro. A política brasileira está no banco dos réus. Nenhum dos três Poderes está isento.
A semana começou com os áudios de Joesley Batista, seguiu com os depoimentos de Marcelo Odebrecht e Antonio Palocci a Sérgio Moro, passou pela denúncia de Rodrigo Janot, de que Lula era o chefe de uma organização criminosa (com Dilma, Gleise Hoffmann, Paulo Bernardo, Edinho Silva e outros), e de que a cúpula do PMDB no Senado (Eunício Oliveira, Renan Calheiros, Romero Jucá, Edson Lobão, Jader Barbalho, Valdir Raupp, além de José Sarney e Sérgio Machado) formava outra quadrilha. É pouco? Pois tem mais.
Lula e Dilma foram denunciados também por obstrução de Justiça (o áudio em que a então presidente diz que mandará a Lula o termo de posse para que ele utilize “se necessário”). E o ex-ministro de Dilma, Aloizio Mercadante, é acusado do mesmo delito, por tentar comprar, sem êxito, o silêncio de Delcídio do Amaral.
Na sexta, a delação pela PGR do doleiro Funaro, fechou a semana. Ele entregou Temer, seus principais ministros e o PMDB, ao mesmo tempo em que Janot anunciava que pedirá a prisão de Joesley, Ricardo Saud e do ex-procurador Marcello Miller, este acusado de tê-los favorecido quando ainda no cargo.
Em meio a tudo isso, houve a apreensão de R$ 51 milhões em um apartamento cedido ao ex-ministro Geddel Vieira Lima – ex-ministro de Lula, Dilma e Temer -, que voltou à Papuda.
Serviço completo. Não sobrou ninguém. Nas narrativas, há gente graduada do Executivo, Legislativo e Judiciário, sem esquecer a própria Procuradoria Geral da República, cujo titular, Janot, terá ainda muito a explicar sobre o acordo de delação e impunidade que selou com a JBS. Janot não está em situação confortável.
A julgar pelos inimigos que colecionou – primeiro, PMDB e PSDB, e agora o PT -, tem todos os motivos para não se aposentar. As flechas que disse ter disparado eram na verdade bumerangues.
Quanto ao governo Temer, ou o que dele restou, perdeu as condições de dar sequência às reformas. O seu núcleo duro, que já tem um dos seus primeiros integrantes, Geddel, na cadeia, está todo na delação do doleiro Funaro.
Por mais que seja apenas uma delação, não é a de qualquer um, mas de alguém que operava as falcatruas e dispõe de farta documentação. E ainda: se encaixa perfeitamente em tudo o que as investigações anteriores já apuraram.
Colaboração, apoio, ajuda, acarajés, pixulecos, propinas – a terminologia varia, mas indica uma mesma prática, um padrão de governo não interrompido com a posse de Temer.
Ambos, na verdade, integravam um mesmo esquema, em que o PMDB, com o impeachment, apenas assumiu o primeiro escalão. O “Fora Temer!” tornou-se o grito de guerra do PT, na disputa entre as quadrilhas, cujo resultado é o strip-tease de ambas.
O depoimento central, sem dúvida, é o de Antonio Palocci a Sérgio Moro, pelo simples fato de ser alguém que integrava a cúpula do sistema e ter tido tal intimidade com Lula que este chegou a lhe pedir que interviesse junto a dona Marisa, para lhe mostrar a inconveniência da aquisição do primeiro imóvel para o Instituto Lula.
A próxima semana se prenuncia explosiva. O que veio à tona nesta que se encerra demonstra a falência moral do poder civil, inaugurado com o advento da Nova República, em 1985.
Como restaurá-lo - e se é possível fazê-lo pelas mãos dos próprios políticos - é a pergunta que se faz em Brasília, sem qualquer certeza quanto às respostas. Enquanto isso, Bolsonaro começa a bombar nas pesquisas. O país continua a caminhar no escuro.