João, que amava loucamente Maria, um belo dia acorda e já não sabe mais.
Amo Maria?
E Pedro, que apenas odiava José, resolve, de inopino, precipitar sua queda – a queda de José, bem entendido.
Quem esse Mané pensa que é?
Pessoas enlouquecidas encenam a moderna comédia humana.
O amor já não é tanto assim, mas o ódio, ah! o ódio está maior do que nunca - e aumentando, geometricamente, a cada dia.
Aquela criatura canhestra, que senpre foi, imersa em seu pequeno mundo - e é seu mesmo, porque a criatura acha-se o rei da cocada preta, dono do mundo -, diante da realidade que insiste alucinadamente em mostrar que não, que o mundo é muito maior, empertiga-se ainda mais e sai por aí atacando tudo e todos que, loucos, insistem em não se submeter a ela, jogar-se ao chão diante de sua divina imagem.
A síndrome de Deus – é o que assola a sociedade contemporânea.
O diabo é que, todos achando-se Deus, não sobra fiéis.
E daí a loucura dos obtusos na busca frenética por impor-se a todo custo.
Você tem que me adorar!
Quem esta pessoa pensa que é para não me adorar?
E, igualmente: mas afinal porque vou amar esta pessoa, se eu sou o único ser admirável do universo?
E aprofunda.
Vivemos um tempo em que o egocentrismo atingiu as raias da alucianção.
Nada há o que importe além de mim!
A cegueira voluntária em relação ao outro, desnuda almas infinitamente apequenadas, ignorantes - doentes.
Mas voluntariamente doentes.
Quando se ataca o outro, e inclusive, em seus pontos mais vulneráveis, visando à baixa perspectiva da satisfação única e exclusiva do ego - que é o que se dá em 99% dos casos -, nada há que redima: não há passado, ou história pessoal de vida, ou trauma, ou o que quer que seja, que justifique assediar a alma alheia; adultos, vividos, experenciados, não têm desculpa para o desastre de se mostrarem obtusos.
A sorte, a grande sorte, é que, sendo o tempo que se vive moderno ou não, contemporâneo, ou não, com ou sem a mais alta tecnologia, aqui neste planeta tudo que vai, volta.
E obtusos aprendem, mais cedo ou mais tarde - e é sempre da pior maneira possível -, que existe, de fato, um Deus - um único, e muito distante das suas ilusões de poder.