Ao longo dos últimos meses temos ouvido falar muito a respeito da violência. O debate ganhou fôlego com a intervenção militar no Rio de Janeiro e ultrapassou fronteiras após o assassinato da vereadora Marielle Franco. O assunto não é novo, mas de tempos em tempos ressurge com força, como agora, até esfriar novamente sem que o problema seja resolvido.
Enquanto nossa indignação for seletiva, acredito que nada mudará. É preciso que as demonstrações de repúdio à violência sejam vigorosas o tempo todo. A onda de protestos que a morte de Marielle provocou no Brasil e no mundo deveria ser constante. As mudanças só ocorrem mediante pressão.
Marielle foi bastante homenageada, está sendo e merece ser. Mas ela, infelizmente, não é a única vítima da covardia do banditismo. Em 2016, a médica Gisele Palhares Gouvêa, 34 anos, foi assassinada com um tiro na cabeça próximo à Linha Vermelha, no Rio de Janeiro. Na época, a morte da jovem saiu na imprensa, mas ficou só nisso. Pelo que consta, até hoje o crime não foi solucionado.
Também tivemos, no mesmo Rio de Janeiro, o assassinato de duas mulheres negras. As jovens Fabiana Aparecida de Souza, 30 anos, e Alda Rafael Castilho, 22 anos. Se perguntarem quem são elas, poucas pessoas saberão responder. Na verdade, eram policiais e foram mortas enquanto trabalhavam em Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) para levar segurança à população onde atuavam. Também a menção e a reação a essas mortes foram praticamente zero, a exemplo de tantas outras.
Notamos que, de vez em quando, uma das vítimas da violência é alçada a símbolo do descalabro que vivemos na segurança pública. É o caso da vereadora Marielle. No entanto, ignoramos solenemente dezenas, centenas, milhares de outras mortes igualmente desumanas, cruéis, repugnantes, enfim, inaceitáveis.
Não podemos ficar indiferentes diante das mortes de tantas crianças, mulheres e homens assassinados diariamente no Brasil das mais diversas formas, por motivos fúteis e que na maioria das vezes nem sequer são noticiadas, não geram comoção nacional nem internacional, não levam a Organização das Nações Unidas (ONU) a pedir uma “investigação rápida” e nem despertam interesse de autoridades policiais, políticas, musicais e eclesiásticas, dentre outras.
Em respeito também a tantas outras Marielles, Anas e Marias que são brutalmente assassinadas todos os dias, nossa indignação não pode ser seletiva. Na condição de homem público e como cidadão, sou favorável à integridade da pessoa humana e da justiça social. Sou a favor de um Estado que garanta o respeito aos direitos de todos, independentemente da classe social, gênero, religião, etnia ou cor.
A violência contra a pessoa (todas as pessoas) não pode e não deve ser encarada como algo corriqueiro, comum. Precisamos resgatar nossa capacidade de indignação, de nos sentirmos chocados com a selvageria em nosso meio.
Precisamos resgatar valores esquecidos, como respeito, honestidade, caráter. E, principalmente, precisamos resgatar a família. É dentro dela que se formam pessoas com esses valores acima. A família é a base de tudo. Melhorar o convívio familiar é melhorar a sociedade. É o princípio da mudança que todos nós queremos, de um Brasil menos violento.