A vida não basta, e é por isto que a arte existe.
O arroz com feijão é muito bom, não se discute, mas a alma anseia por mais.
Mais qualquer coisa que não seja arroz com feijão.
E é por isto que o capital internacional se mantém, inabalável, por séculos e séculos, e se manterá: porque é da natureza humana ansiar por uma nova calça jeans totalmente rasgada e envelhecida, a 47ª do armário.
Grande parcela da humanidade já se deu conta da armadilha do consumismo vão, o consumir por consumir, fundado única e tão somente no vago desejo de acompanhar o modus ou a moda do mundo; há já uma alentada parte de indivíduos que inteligentemente acordaram para o enriquecimento próprio - e não o alheio -, e passou a consumir o necessário, o sofisticado, inclusive, mas sem qualquer sombra de excesso.
O excesso é brega, convenhamos.
E esta é uma mentalidade relativamente nova.
Basta ver o que foi feito dos armários nos anos 80 e 90. Meu Deus!
Como se sabe, aliás, todo excesso será castigado.
É assim desde os tempos bíblicos; é assim desde sempre.
Mas o fato incontornável é que não se vive sem um novo figurino. Uma arte nova.
No grande teatro do mundo, repete-se inclusive as mesmas falas, os mesmos gestos, mas repetir a mesma roupa, estação após estação, é deveras pesaroso demais.
Busca-se, é verdade, o crescimento interno, a beleza interna, o avançar do desenvolvimento humano, a moralidade pública e tudo o mais, e vai-se, assim, com efeito, agregando-se valor à condição humana, mas..., com uma calça jeans nova, a coisa ganha outro aspecto.
A alegria de uma nova indumentária, alenta o indivíduo, que se vê em um clip de rock, ou numa série baixada na internet.
É a ilusão de todos e cada um; que tem espaço em nossas vidas, chova ou faça sol, antes, durante, e depois de quaisquer guerras, convulsões, ou o que valha.
Faz parte.
Na verdade, o sonho, ou a ilusão, de representar papéis diferentes, no grande teatro do mundo é o anseio maior de cada um de nós - e o figurino novo é parte do caminho para o novo papel. Pensamos exatamente assim, infantil e ingenuamente assim.
To-dos.
Mesmo o capitalista internacional que quer te vender um figurino novo a cada cinco minutos.
Seres humanos são trágicos, risíveis e inarredavelmente infantis.
É a nossa condição.
Deixa eu ir que hoje chega coleção nova, vai ter coquetel e tudo. Uia!