A visão leiga do que se dá na América Latina parece apontar para a existência de considerável quantitativo de grupos envolvidos em tarefas informais; e, mais que isso, grupos formais, em tarefas formais, envolvidos na obtenção de dividendos não capturados por mecanismos contábeis formais quaisquer.
No rolo. A visão leiga aponta para o que poderíamos descrever como grande quantitativo de grupos envolvidos no rolo.
Sabe como é: a burocracia hereditária, morosa, impraticável, acaba empurrando os indivíduos aos meios mais fáceis de se obter o mesmo resultado; somado a isto, há sempre alguém disponível a facilitar as coisas - por módicas quantias, claro -, e, somado a isto, há sempre quem veja brechas de ganhos – módicos, também -, na própria morosidade impraticável, e quem, em auxílio a estes últimos, encontre-se disponível para dificultar ainda mais as coisas – por um preço igualmente módico.
E, assim, na ciranda da burocracia burra, vicejam Estados enterrados até os pescoços no atraso – e muita, muita, gente ganhando muito com isso.
Só no rolo.
Muita gente ganhando muito, em cima de nada: nenhuma produção, nenhuma tecnologia, nenhum ganho real para a socidade.
É só rolo.
Dinheiro que vai – e só vai, não volta, não.
Porque quem tá no rolo sabe investir: lá fora.
Paga-se o silêncio e conformismo das classes mais desfavorecidas com bolsas disso e daquilo, e segue o rolo.
A classe média que aprendeu a andar direito, trabalhar e recolher impostos, vê-se, vez ou outra, tentada a entrar no rolo, mas não tem know-how para isso.
É preciso uma certa tendência natural ao rolo.
Uma certa malimolência; espinha flexível – e outras coisas flexíveis, também.
Agora, imagine esse rolo todo multiplicado por mais de 8.000.000 Km de costas - largas, larguíssimas.
Pois é.
É rolo que não acaba mais.
Como se sabe, a essência do rolo, a esperteza, é a arma dos fracos.
A quem interessa, em verdade, tanta esperteza assim?
E porque em toda a história dessas paragens latinas, o que se vê é um renovar de espertos pra todos os lados?
Espertos à direita e à esquerda. E ao centro, também.
Acontece, agora, que como tudo nesta vida, esperteza também tem limite.
Fraqueza, tem limite.
Acontece, agora, que a visão de novas possibilidades históricas que aportam nas mídias, acessadas pelos mais baixos e pelos mais altos escalões sociais, e o conhecimento que assim se propaga, ainda que aos trancos e barrancos, trazem o prognóstico de mudanças - e elas virão -; grupos bananeiros que vicejam no rolo, mais cedo ou mais tarde, vão ter que se endireitar.
Vão ter que se endireitar.