Entra século e sai século e a humanidade continua a suspirar por estórias de fadas.
Grandes enredos de superação. Sempre o mais fraco vencendo o mais forte ou o sistema dos mais fortes; vencendo o lobo mau, a pobreza, o despreparo, a bruxa malvada; vencendo a má sorte.
Estima-se que quase 2 bilhões de pessoas assistiram, no último sábado, ao casamento real, do 6º na linha sucessória ao trono da Inglaterra. O 6º, hein!?!
O interesse é muito grande, como se vê.
Estórias de superação acalentam a humanidade; notadamente a humanidade nas classes menos favorecidas e na classe média mundial.
Na verdade, o interesse é muito grande numa realidade melhor; melhor que a que se vive mundo afora; na verdade, o que há, é que pelo menos um terço da humanidade imagina que a vida pode ser mais feliz que a vida que leva, e sonha com a tranquilidade de flores no jardim, muitas flores e muitos jardins.
Grandes e intermináveis jantares; festas, jogos, passeios e jardins floridos.
Jardins floridos não podem faltar em nenhum final feliz.
Infelizmente, vivemos um sistema mundial de produção e consumo que demanda muita mão de obra e muito consumo, e indivíduos entregando suas vidas pelo trabalho e pelo consumo, em troca – ora veja! - de mais trabalho e mais consumo.
Alguns poucos – pouquíssimos -, por herança, sorte, trabalho eficiente extremado - ou a soma de todas essas coisas -, alcançaram, ou alcançam, o conto de fadas que tantos bilhões acalentam.
A imensa e esperançosa maioria vive a realidade de ter que pagar boletos – muitos boletos; intermináveis boletos.
É possível, contudo, a cada um de nós, pensar um mundo com jardins floridos para todos, e jantares e passeios.
E se é possível pensar, é possível realizar; talvez nalgum tempo muito futuro, já que ocupadíssima em trabalhar e consumir, a imensa maioria dos humanos não encontra, em verdade, muito tempo para pensar – mas, ainda assim, como se sabe, a passo de formiga, a história vai revelando avanços; mais comida, mais informação distribuída.
O que move o mundo é a consciência humana que se vai adquirindo do absurdo, ou dos absurdos, da má distribuição de oportunidades entre os indivíduos.
O que faz girar a nossa realidade é a oportunidade de desenvolvimento humano que se atribui, que se distribui.
Na suma, o que move a história é a consciência da baixeza da mesquinhez, ou quão contraproducente esta pode ser – tanto faz.
Daí que assistir a casamentos reais, nos dias que correm, pode muito bem significar, ou ressignificar, o movimento pela distribuição social dos contos de fadas.
Talvez; é quase certo.
Agora, que o prognóstico para a indústria dos jardins é muito bom, ah, isso é. Certeza.