Ouvindo a um comentário recente sobre a necessidade de humanização da ciência, me coloquei a pensar sobre humanizar. Há alguns anos, por força da função docente, orientei a um trabalho de conclusão de curso de graduação em enfermagem que discutia a humanização do parto em instituições públicas, hospitais.
Nos autodenominamos como humanos. Como justificar todas as atitudes não humanas cometidas em todos os territórios humanos ao longo dos séculos e muito especialmente neste vigésimo primeiro.
Como podemos justificar as agressões a mulheres, homossexuais, deficientes, opções religiosas e tantas outras formas de diminuir pessoas em função de posicionamentos pessoais sem qualquer justificativa ou fundamento humano?
A pandemia nos colocou novos e intrigantes questionamentos sobre nossa suposta humanidade. O número de homicídios praticados entre familiares é surpreendentemente crescente em todos os níveis sociais, se assim pudéssemos dividir seres humanos ou classifica-los. Esta é, de fato, mais uma forma de manter a exclusão, a elitização e a supremacia de uns sobre os outros.
As recentes cenas no Afeganistão podem causar espanto entre outras culturas como se fosse, aquele país o epicentro das agressões de humanos contra humanos. Em nosso país crianças, adolescentes e jovens adultos são brutalmente assassinados, de várias formas, inclusive com a ausência de condições dignas de vida.
As pessoas não matam outras apenas com a morte agilmente conquistada por um tiro. Há muitas formas de matar humanos de forma lenta, brutal e irresponsável. Todos os leitores já conviveram com a ausência de saneamento básico como fonte de doenças fatais, de déficits alimentares por ausência de renda digna, a supressão de postos de trabalho e a manutenção do lucro a qualquer custo e, por vezes, com o custo de vidas de brasileiros para manter a lucratividade de empresas de economia mista que deveriam, obviamente, trazer benefícios ao povo brasileiro como um todo e não apenas aos acionistas.
Parece-nos claro que a economia está muito distante da humanização necessária, muito especialmente no momento de uma pandemia que já ceifou muitas vidas, que poderiam ser poupadas.
Nos tornamos humanos desumanos ao longo do tempo. Observem que muitos jovens adultos não desejam mais ter filhos, pois não têm perspectivas positivas em suas vidas e daqueles a quem poderiam dar a vida. Vamos desistindo da humanidade. Ou ainda temos chance?